3º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B
Is
61,1-2a.10-11; Sl Lc 1, 46-48.49-50.53-54; 1 Tes 5,16-24; Ev Jo 1,6-8.19-28
As leituras do 3º Domingo do Advento garantem-nos que Deus tem um projeto
de salvação e de vida plena para propor aos homens e para os fazer passar das
“trevas” à “luz”.
Na primeira leitura, um profeta pós-exílico apresenta-se
aos habitantes de Jerusalém com uma “boa nova” de Deus. A missão deste
“profeta”, ungido pelo Espírito, é anunciar um tempo novo, de vida plena e de
felicidade sem fim, um tempo de salvação que Deus vai oferecer aos “pobres”.
O Evangelho apresenta-nos João Baptista, a “voz”
que prepara os homens para acolher Jesus, a “luz” do mundo. O objetivo de João
não é centrar sobre si próprio o foco da atenção pública; ele está apenas
interessado em levar os seus interlocutores a acolher e a “conhecer” Jesus,
“aquele” que o Pai enviou com uma proposta de vida definitiva e de liberdade
plena para os homens.
Na segunda leitura Paulo explica aos cristãos da
comunidade de Tessalónica a atitude que é preciso assumir enquanto se espera o
Senhor que vem… Paulo pede-lhes que seja uma comunidade “santa” e
irrepreensível, isto é, que vivam alegres, em atitude de louvor e de adoração,
abertos aos dons do Espírito e aos desafios de Deus.
1º leitura Is 61,1-2a.10-11
A primeira
parte do nosso texto (vers. 1-2a) pertence à primeira secção do capítulo. Aí, o
profeta apresenta o sentido da sua vocação e missão. Antes de mais, ele
apresenta-se como o “ungido” do Senhor, sobre quem repousa o Espírito; e é o
mesmo Espírito que o move e o impele para a missão – como acontecia com os
juízes e os antigos profetas (cf. Nm 11,25-26; 24,2). Embora não se mencione o
termo “profeta”, essa missão apresenta-se como eminentemente profética: ele é
enviado por Deus e a missão tem a ver com o serviço da Palavra.
Em concreto,
a missão do profeta consiste em anunciar uma “boa notícia” (“evangelho”), em
curar os corações feridos, em proclamar a libertação aos prisioneiros, em
promulgar “o ano da graça do Senhor”. O anúncio do “ano da graça” alude aos
anos jubilares (celebrados de cinquenta em cinquenta anos – cf. Lev 25,10-17) e
aos anos sabáticos (celebrados de sete em sete anos). De acordo com a Lei de
Deus, eram anos destinados a restaurar a situação original de justiça e
implicavam, por isso, a libertação dos escravos (cf. Ex 21,2; Dt 15,12), o
perdão das dívidas (cf. Dt 15,1) e a restituição dos bens e propriedades alienados
durante esse período.
Os
destinatários dessa mensagem de esperança são os “pobres”. A categoria
“pobres”, no contexto bíblico, é menos uma categoria sociológica e mais uma
categoria espiritual… Os pobres são os carentes de bens, de dignidade, de liberdade
e de direitos, mas que pela sua especial situação de miséria e de necessidade
são considerados os preferidos de Deus e o objeto de uma especial proteção e
ternura de Deus. Por isso, são olhados com simpatia e até, numa visão simplista
e idealista, são retratados como pessoas pacíficas, humildes, simples,
piedosas, cheias de “temor de Deus” (isto é, que se colocam diante de Jahwéh
com serena confiança, em total obediência e entrega). Representam essa parte do
Povo de Deus freqüentemente maltratada e oprimida pelos poderosos, mas que se
entrega com fé, humildade e confiança nas mãos de Deus e que Deus ama de forma
especial.
A missão
deste “profeta” é, portanto, anunciar um tempo novo, de vida plena e de
felicidade sem fim, um tempo de salvação que Deus vai oferecer aos “pobres”.
A segunda parte do texto que nos é proposto (vers. 10-11) pertence à terceira secção do capítulo. Trata-se da parte final do oráculo: após o anúncio de salvação apresentado pelo profeta, a cidade de Jerusalém manifesta o seu regozijo e contentamento porque Deus a vai revestir de salvação e de justiça, como o noivo que cinge o diadema ou a noiva que se adorna com suas jóias… A última imagem (“como a terra faz brotar os gérmenes e o jardim germinar as sementes”) sugere a vida e a fecundidade que resultarão da ação salvadora e libertadora de Deus.
A segunda parte do texto que nos é proposto (vers. 10-11) pertence à terceira secção do capítulo. Trata-se da parte final do oráculo: após o anúncio de salvação apresentado pelo profeta, a cidade de Jerusalém manifesta o seu regozijo e contentamento porque Deus a vai revestir de salvação e de justiça, como o noivo que cinge o diadema ou a noiva que se adorna com suas jóias… A última imagem (“como a terra faz brotar os gérmenes e o jardim germinar as sementes”) sugere a vida e a fecundidade que resultarão da ação salvadora e libertadora de Deus.
SALMO RESPONSORIAL – Lc 1,
46-48.49-50.53-54
Refrão 1: Exulto de alegria no Senhor.
Refrão 2: A minha alma exulta no
Senhor.
2ª leitura 1 Tes 5,16-24
Como é que
os cristãos devem, então, viver esse tempo de espera do Senhor?
No texto que a segunda leitura deste domingo nos propõe, Paulo não apresenta grandes desenvolvimentos nem reflexões muito elaboradas… No entanto, o apóstolo apresenta sugestões muito úteis para a vida cristã e para a construção da comunidade.
No texto que a segunda leitura deste domingo nos propõe, Paulo não apresenta grandes desenvolvimentos nem reflexões muito elaboradas… No entanto, o apóstolo apresenta sugestões muito úteis para a vida cristã e para a construção da comunidade.
Paulo começa
por pedir aos tessalonicenses que vivam alegres e que pautem a sua vida por uma
intensa oração, sobretudo a oração de ação de graças. O cristão é sempre uma
pessoa livre e feliz, consciente da presença salvadora e libertadora de Deus ao
seu lado, que contempla permanentemente esse horizonte último de vida eterna e
de felicidade definitiva que Deus lhe reserva e que, por isso, agradece e louva
ao seu Senhor.
Depois, o
apóstolo pede também aos tessalonicenses que abram o coração ao Espírito e que
não desprezem os seus dons. Esta referência pode significar que as experiências
carismáticas começavam a criar problemas na comunidade… Provavelmente, nem toda
a gente entendia e estava aberta às interpelações que o Espírito fazia através
de alguns membros da comunidade… O novo, o espontâneo, o criativo, chocavam com
o rotineiro, o estabelecido, o pré-fixado. Paulo recomenda aos cristãos de
Tessalónica que saibam tudo analisar com cuidado e discernimento, sem
preconceitos, de coração aberto à novidade de Deus, guardando “o que é bom” e
afastando-se de “toda a espécie de mal”.
Uma
comunidade construída de acordo com estes princípios – que vive a sua
existência histórica com alegria e serenidade, que louva o seu Senhor e que
está permanentemente atenta para discernir e aceitar os dons do Espírito – é
uma comunidade “santa” e irrepreensível, preparada para acolher, em qualquer
momento, o Senhor que vem.
Evangelho Jo 1,6-8.19-28
Na primeira
parte do nosso texto (vers. 6-8), apresenta-se João. Dele dizem-se duas coisas:
que é “um homem” e que foi “enviado por Deus”. O agente principal nesta
história é, naturalmente, Deus: é Deus que escolhe esse homem e o envia ao
mundo com uma missão concreta. É, habitualmente, esse o “método” de Deus: chama
homens, confia-lhes uma missão e, através deles, intervém no mundo.
A missão de
João é “dar testemunho da luz”. A “luz”, no Quarto Evangelho, representa essa
realidade que vem de Deus e com a qual Deus se propõe construir para os homens
um mundo novo de vida definitiva e de felicidade total. João não atua por sua
própria iniciativa, mas em resposta à escolha divina e para concretizar uma
missão que Deus lhe confiou. Por outro lado, embora enviado por Deus, João não
é “a luz” – isto é, ele não tem a capacidade de eliminar as trevas que
escurecem e desfeiam a vida dos homens, porque não tem a capacidade de dar vida
aos homens. João é apenas “a testemunha” que vem preparar os homens para
acolher esse que vai chegar e que será “a luz/vida”.Na segunda parte do nosso
texto (vers. 19-28), temos o “testemunho” de João.
A cena
coloca-nos diante de uma comissão oficial, enviada de Jerusalém para investigar
João e constituída por sacerdotes e levitas (encarregados, entre outras coisas,
de vigiar a ortodoxia e a fidelidade à ordem religiosa judaica). No ambiente de
messianismo exacerbado da época, a figura de João e o seu testemunho resultam
inquietantes para os líderes religiosos judeus…A comissão investigadora começa
por interrogar João com uma pergunta aparentemente inócua: “quem és tu?”. Os
interrogadores não tomam posição. Limitam-se a esperar que o próprio João
declare a sua posição e as suas intenções. João descarta totalmente a hipótese
de ser o Messias. Também não aceita identificar-se com Elias (de acordo com Mal
3,22-23, Elias devia vir preparar o “dia de Jahwéh” – que, no século I era o
dia da vinda do Messias libertador, enviado por Deus para construir um mundo
novo). Tampouco aceita assumir o título de “o profeta” (este título parece
aludir a Dt 18,15 e significava, na época de Jesus, um “segundo Moisés” que
deveria aparecer nos últimos tempos). Na verdade, João não aceita que lhe
atribuam nenhuma função que possa centrar a atenção na sua própria pessoa. As
suas três respostas são rotundas negativas. Ele não busca a sua glória ou a sua
afirmação, nem vem em seu próprio nome; a sua missão é meramente dar testemunho
da “luz” e é para essa “luz” que os holofotes devem ser apontados.
É dentro
deste enquadramento que devemos entender a resposta de João, quando os seus
interlocutores o convidam a definir-se: “eu sou uma voz”. “Voz” é um termo
relacional que supõe ouvintes a quem é comunicada uma mensagem… A “voz” não tem
rosto, é anônima e passa despercebida; o importante é o conteúdo da mensagem. É
isso que João é: uma “voz” através da qual Deus passa aos homens uma mensagem.
É à mensagem
e não à “voz” que os homens devem dar atenção. A mensagem que a “voz” veicula
é: “endireitai o caminho do Senhor”. A expressão é tomada de Is 40,3, numa
versão livre. Em Isaías, a expressão é usada no contexto da intervenção
salvadora de Deus para fazer regressar à Terra da Liberdade os judeus cativos
na Babilónia. Pedia que o Povo instalado e acomodado, desanimado e frustrado
fizesse um esforço para acolher os desafios de Deus e aceitasse pôr-se a
caminho com Deus em direção a um futuro novo de vida e de esperança. É essa
mesma realidade que João é chamado a acordar no coração do seu Povo.As
respostas negativas de João desconcertam a comissão… Se João não reivindica
nenhum dos títulos tradicionais – “Messias”, “Elias”, “o profeta” – a que
título é que ele batizar? O batismo ou imersão na água era um símbolo
relativamente freqüente no judaísmo. Era usado como rito de purificação (por
exemplo, para um enfermo curado da sua doença – cf. Lev 14,8) ou para
significar a mudança de estado de vida (podia significar, por exemplo, a
passagem de uma situação de escravidão a uma situação de liberdade; para os
prosélitos, significava o abandono das práticas e crenças pagãs e a adesão ao judaísmo).
O batismo de João significava, provavelmente, a ruptura com a vida das trevas e
o desejo de aderir a uma nova vida. Para João seria, apenas, um primeiro passo
para acolher “a luz”.
João evita
responder diretamente à objeto que os fariseus lhe colocam. Ele prefere
desvalorizar o seu batismo com água e apontar para “aquele” que vem e a quem
João não é digno “de desatar as correias das sandálias”. Esse é que é “a luz”
que vai libertar o homem da escuridão, da cegueira, da mentira, do egoísmo, do
pecado. É como se João dissesse: “não vos preocupeis com o batismo com água que
eu administro, pois ele é, apenas, um símbolo de transformação e de adesão a
uma nova realidade; mas olhai antes para essa nova realidade que já está no
meio de vós e que o Messias vos vai oferecer. É o batismo do Messias (o batismo
no Espírito) que transformará totalmente os corações dos homens, os fará livres
e lhes dará a vida definitiva. Esse que vem batiza no Espírito já está
presente, a fim de iniciar a sua obra libertadora. Procurai conhecê-lo – isto
é, escutá-lo e acolher a sua proposta de vida e de libertação”.
A indicação
de que os líderes não “conhecem” esse “alguém” que já chegou e do qual João
apenas é “a voz” é, provavelmente, uma denúncia da situação em que se encontra a
classe dirigente judaica, instalada nos seus privilégios, certezas e
preconceitos e muito pouco aberta à novidade e aos desafios de Deus.
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