INÍCIO DE UM NOVO ANO LITÚRGICO
I DOMINGO DO ADVENTO
O Ciclo do Natal se inicia com o Advento e neste tempo nós começamos nossa preparação para a comemoração do Nascimento de Jesus, para a chegada do Menino Deus e Rei em nossas vidas. A cada ano celebramos esta chegada e proponho uma chamada de consciência para verdadeiramente aceitarmos Cristo como nosso único Rei e Salvador, Caminho, Verdade e Vida.
(Is 2,1-5) - (Rm 13,11-14) - (Mt 24,37-44)
O primeiro domingo do Advento é o
início do ano litúrgico. Para os cristãos, é o verdadeiro “ano novo”, pois a
nossa vida de fé é marcada e ritmada pela celebração do Mistério de Deus. O
Advento é tempo de preparação para o Natal; tempo que deve ser vivido numa
dupla atitude: intensificar a leitura e a meditação da Palavra de Deus e a
penitência.
O texto da liturgia de hoje é
parte do discurso escatológico de Jesus (Mt 24,1–25,46); discurso sobre o fim.
Entenda-se fim não como término, mas como aquilo que é definitivo para a
existência humana. Normalmente, a linguagem utilizada para este tipo de
discurso é a apocalíptica, que tem um tom um tanto dramático e, por vezes,
causa certo medo nas pessoas que não ultrapassam o sentido primeiro do texto.
Em nosso caso, o discurso é
exortação aos discípulos a colocarem a sua confiança naquilo que não passa. O
precursor deste tipo de linguagem na Bíblia é o livro de Daniel (Dn 7–12),
escrito em meados do segundo século antes de Cristo.
A evocação do tempo de Noé e o
dilúvio servem para colocar os discípulos, destinatários do discurso (cf. Mt
24,1), de alerta e para os convidar a uma atitude de engajamento e coerência
com sua vocação cristã. O dilúvio, como evento de purificação, é água divisora
entre um antes e um depois. Parece que o dilúvio os faz abrir os olhos quanto
ao modo como viviam: nada percebiam, “até que veio o dilúvio e arrastou a
todos” (v. 39). A vida do ser humano não se encerra nos limites da história,
nem se resume em comer e beber, nem em procurar “aproveitar a vida”.
Na descrição sumária do tempo de
Noé, Deus não aparece; é como se ele não contasse para nada. A excessiva
preocupação com questões relativas à vida de cada dia e com o bem-estar pode
não só nos distanciar das coisas do céu, como também nos fazer prescindir do
próprio Deus ou até ignorar sua presença. A história do tempo de Noé, antes do
dilúvio, serve para ilustrar esta situação e interpelar os discípulos a que
mantenham a vida referida a Deus.
A fé em Deus exige uma vida
conforme a sua vontade: “Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor!, entrará no
Reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt
7,21). A vida de quem crê deve ser a expressão da fé que ele professa e do Deus
em quem ele põe a sua esperança e confiança. O principal é buscar o Reino de
Deus, que antecede todas as coisas, e por Deus o necessário é dado (ver: Lc
12,22-31).
A imprevisibilidade da vinda do
Filho do Homem exige uma atitude diferente das pessoas do tempo de Noé,
anteriores ao dilúvio (cf. v. 39b-41). A atitude requerida é a da vigilância
(cf. v. 42). Vigilância é trabalho de discernimento, é empenho na atividade
cotidiana que engaja o homem na sua missão, fruto do seguimento de Jesus
Cristo. “É hora de despertarmos do sono”, diz Paulo, “abandonemos as obras das
trevas, e vistamos as armas da luz; procedamos honestamente como em pleno dia
[…]. Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,11-14).
O tempo litúrgico do Advento
convida-nos à preparação para acolher o Senhor que vem. O apelo insistente da
Igreja questiona a tendência dos cristãos a serem acomodados, quando não
contaminados pela mentalidade mundana, centrados na busca desenfreada do prazer
e na consecução de interesses pessoais.
Desconhecendo o dia e a hora em
que o Senhor virá, o discípulo deve estar sempre pronto para recebê-lo. A
prontidão cristã é feita de pequenos gestos de amor, na simplicidade do
quotidiano. Nada de ações mirabolantes nem de tarefas heróicas a serem
cumpridas! Exige-se do discípulo apenas amor sincero e gratuito a Deus e ao
próximo.
O episódio bíblico acerca da
figura de Noé e do dilúvio ilustra a atitude contrária àquela do discípulo do
Reino. A devastação diluviana tomou de surpresa a humanidade. Ninguém, além de
Noé e de sua família, deu-se conta do que estava para acontecer. Por isso,
comia-se, bebia-se e se celebravam bodas, na mais total ignorância da fúria
destruidora da natureza que se abateria sobre a Terra.
O Senhor espera encontrar os
discípulos do Reino vigilantes, quando de sua chegada. A menor desatenção pode
revelar-se perigosa. Por isso, o egoísmo jamais poderá ter lugar no coração de
quem quer ser encontrado pelo Senhor. Só existe uma maneira de preparar-se para
este momento: amar.