terça-feira, 31 de outubro de 2017

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS FALECIDOS - FINADOS

A MORTE, UM MISTÉRIO

A Igreja dá à data litúrgica de 2 de novembro o título de “Comemoração de todos os fiéis defuntos”. É um dia no qual nós, cristãos, rezamos principalmente pelos nossos irmãos na fé, ou seja, os batizados em Cristo, que já morreram. Claro que toda a humanidade – e não só os cristãos – são objeto da oração e solicitude da Igreja, que é Corpo de Cristo, o Salvador de todos! Diariamente, na Santa Missa, a Igreja recorda não somente os “nossos irmãos que partiram desta vida”, mas também “todos aqueles cuja fé só vós conheceis”!

Seja como for, o Dia de Finados coloca-nos diante de uma questão fundamental para nossa existência: a questão da morte. Nosso modo de enfrentar a vida depende muito do modo como encaramos a morte, e vice-versa! Atualmente, há quatro modos possíveis de encará-la, de colocar-se diante da realidade da morte. 

Senão vejamos:

Há aqueles – e não são poucos – que cinicamente a ignoram. Vivem como se um dia não tivessem que morrer: preocupam-se tão somente com esta vida: comamos e bebamos! Em geral, quando vão a um sepultamento, conversam o tempo todo sobre futebol, política ou quaisquer outros assuntos banais e rasteiros. São pessoas rasas, essas; pessoas que nunca pararam de verdade para se perguntar sobre o sentido da vida e, por isso mesmo, não vivem; sobrevivem, apenas! Estas, quando tiverem que enfrentar a própria morte, que vazio, que absurdo encontrarão! É o preço a pagar pelo modo leviano com que viveram a vida! Isto é triste porque quando o homem não pensa na morte, esquece que é finito, passageiro, fugaz e, assim, começa a julgar-se Deus de si mesmo e tudo que consegue é infernizar sua vida e a dos outros. São tantos os exemplos atuais…

Há ainda aqueles que diante da morte se angustiam, apavoram-se até ao desespero. A morte os amedronta: parece-lhes uma insensatez sem fim, pois é a negação de todo desejo de vida, de felicidade e eternidade que cresce no coração do homem. Estes sentem-se esmagados pela certeza de um dia ter que encarar, frente a frente, tão fria, tirana e poderosa adversária. Assim, querendo ou não, podem afirmar como Sartre, o filósofo francês: “A vida é uma paixão inútil!”

Há também um terceiro grupo: o dos otimistas ingênuos. Vemo-los nessas seitas esotéricas de inspiração oriental e em todas as doutrinas reencarnacionistas. A Seicho-no-iê, por exemplo, afirma que o mal, a doença, a morte, são apenas ilusão: a meditação, o autocontrole, a purificação contínua, podem libertar o homem de tais ilusões; o Espiritismo, proclama, bêbado de doce ilusão: “A morte não existe. Não há mortos!” – É esta a afirmação existente num monumento ao nascimento do Espiritismo moderno, em Hydesville, Estados Unidos. Não há morte para nos agredir; há somente uma desencarnação!

Mas, há ainda um último modo de encarar a morte, tipicamente cristão. A morte existe sim! E dói! E machuca! Não somente existe, como também marca toda a nossa existência: vivemos feridos por ela, em cada dor, em cada doença, em cada derrota, em cada medo, em cada tristeza… até a morte final! Não se pode fazer pouco caso dela: ela nos magoa e nos ameaça; desrespeita-nos e entristece-nos, frustra nossas expectativas sem pedir permissão! O cristão é realista diante da morte; recorda-se da palavra de Gn 2,17: “De morte morrerás!” 

Então, os discípulos de Cristo somos pessimistas? Não! Nós simplesmente não nos iludimos: sabemos que a morte é uma realidade e uma realidade que não estava no plano de Deus para nós: não fomos criados para a ela, mas para a vida! Deus não é o autor da morte, não a quer nem se conforma com ela! Por isso mesmo enviou-nos o seu Filho, aquele mesmo que disse: ”Eu sou a Vida; eu sou a Ressurreição!” Ele morreu da nossa morte para que nós não morramos sozinhos, mas morramos com ele e como ele, que venceu a morte! Para nós, cristãos, a morte, que era como uma caverna escura, sem saída, tornou-se um túnel, cujo final é luminoso. Isto mesmo: Cristo arrombou as portas da morte! Ela tornou-se apenas uma passagem, um caminho para a nossa Páscoa, nossa passagem deste mundo para o Pai: “Ainda que eu passe pelo vale da morte, nenhum mal temerei, porque está comigo!” Em Cristo a morte pode ser enfrentada e vencida! Certamente ela continua dolorosa, ela nos desrespeita; mas se no dia a dia aprendermos a viver unidos a Cristo e a vivenciar as pequenas mortes de cada momento em comunhão com Senhor que venceu a morte, a morte final será um “adormecer em Cristo”.

Por tudo isso, o Dia de Finados é sempre excelente ocasião não somente para rezar pelos nossos irmãos já falecidos, mas também para pensarmos na nossa morte e na nossa vida, pois “tal vida, tal morte!


terça-feira, 22 de novembro de 2016

DESPERTEMOS! O TEMPO DA GRAÇA CHEGOU!

INÍCIO DE UM NOVO ANO LITÚRGICO 

I DOMINGO DO ADVENTO ANO A

O Ciclo do Natal se inicia com o Advento e neste tempo nós começamos nossa preparação para a comemoração do Nascimento de Jesus, para a chegada do Menino Deus e Rei em nossas vidas. A cada ano celebramos esta chegada e proponho uma chamada de consciência para verdadeiramente aceitarmos Cristo como nosso único Rei e Salvador, Caminho, Verdade e Vida.


(Is 2,1-5) - (Rm 13,11-14) - (Mt 24,37-44)

O primeiro domingo do Advento é o início do ano litúrgico. Para os cristãos, é o verdadeiro “ano novo”, pois a nossa vida de fé é marcada e ritmada pela celebração do Mistério de Deus. O Advento é tempo de preparação para o Natal; tempo que deve ser vivido numa dupla atitude: intensificar a leitura e a meditação da Palavra de Deus e a penitência.

O texto da liturgia de hoje é parte do discurso escatológico de Jesus (Mt 24,1–25,46); discurso sobre o fim. Entenda-se fim não como término, mas como aquilo que é definitivo para a existência humana. Normalmente, a linguagem utilizada para este tipo de discurso é a apocalíptica, que tem um tom um tanto dramático e, por vezes, causa certo medo nas pessoas que não ultrapassam o sentido primeiro do texto.

Em nosso caso, o discurso é exortação aos discípulos a colocarem a sua confiança naquilo que não passa. O precursor deste tipo de linguagem na Bíblia é o livro de Daniel (Dn 7–12), escrito em meados do segundo século antes de Cristo.

A evocação do tempo de Noé e o dilúvio servem para colocar os discípulos, destinatários do discurso (cf. Mt 24,1), de alerta e para os convidar a uma atitude de engajamento e coerência com sua vocação cristã. O dilúvio, como evento de purificação, é água divisora entre um antes e um depois. Parece que o dilúvio os faz abrir os olhos quanto ao modo como viviam: nada percebiam, “até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (v. 39). A vida do ser humano não se encerra nos limites da história, nem se resume em comer e beber, nem em procurar “aproveitar a vida”.

Na descrição sumária do tempo de Noé, Deus não aparece; é como se ele não contasse para nada. A excessiva preocupação com questões relativas à vida de cada dia e com o bem-estar pode não só nos distanciar das coisas do céu, como também nos fazer prescindir do próprio Deus ou até ignorar sua presença. A história do tempo de Noé, antes do dilúvio, serve para ilustrar esta situação e interpelar os discípulos a que mantenham a vida referida a Deus.

A fé em Deus exige uma vida conforme a sua vontade: “Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor!, entrará no Reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). A vida de quem crê deve ser a expressão da fé que ele professa e do Deus em quem ele põe a sua esperança e confiança. O principal é buscar o Reino de Deus, que antecede todas as coisas, e por Deus o necessário é dado (ver: Lc 12,22-31).

A imprevisibilidade da vinda do Filho do Homem exige uma atitude diferente das pessoas do tempo de Noé, anteriores ao dilúvio (cf. v. 39b-41). A atitude requerida é a da vigilância (cf. v. 42). Vigilância é trabalho de discernimento, é empenho na atividade cotidiana que engaja o homem na sua missão, fruto do seguimento de Jesus Cristo. “É hora de despertarmos do sono”, diz Paulo, “abandonemos as obras das trevas, e vistamos as armas da luz; procedamos honestamente como em pleno dia […]. Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,11-14).

O tempo litúrgico do Advento convida-nos à preparação para acolher o Senhor que vem. O apelo insistente da Igreja questiona a tendência dos cristãos a serem acomodados, quando não contaminados pela mentalidade mundana, centrados na busca desenfreada do prazer e na consecução de interesses pessoais.

Desconhecendo o dia e a hora em que o Senhor virá, o discípulo deve estar sempre pronto para recebê-lo. A prontidão cristã é feita de pequenos gestos de amor, na simplicidade do quotidiano. Nada de ações mirabolantes nem de tarefas heróicas a serem cumpridas! Exige-se do discípulo apenas amor sincero e gratuito a Deus e ao próximo.

O episódio bíblico acerca da figura de Noé e do dilúvio ilustra a atitude contrária àquela do discípulo do Reino. A devastação diluviana tomou de surpresa a humanidade. Ninguém, além de Noé e de sua família, deu-se conta do que estava para acontecer. Por isso, comia-se, bebia-se e se celebravam bodas, na mais total ignorância da fúria destruidora da natureza que se abateria sobre a Terra.

O Senhor espera encontrar os discípulos do Reino vigilantes, quando de sua chegada. A menor desatenção pode revelar-se perigosa. Por isso, o egoísmo jamais poderá ter lugar no coração de quem quer ser encontrado pelo Senhor. Só existe uma maneira de preparar-se para este momento: amar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

DEUS ACOLHE A SÚPLICA DO HUMILDE!

30º  DOMINGO  DO TEMPO COMUM ANO C

1ª Leitura - Eclo 35,15b-17.20-22a 
A prece do humilde atravessa as nuvens.


Leitura do Livro do Eclesiástico 35,15b-17.20-22a 
O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas. Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido
e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento.
Palavra do Senhor.

Sl 33,2-3.17-18.19.23 
R.O pobre clama a Deus e ele escuta: 
o Senhor liberta a vida dos seus servos.

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo,*
seu louvor estará sempre em minha boca.
Minha alma se gloria no Senhor;*
que ouçam os humildes e se alegrem! R.

mas ele volta a sua face contra os maus,*
para da terra apagar sua lembrança.
Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta*
e de todas as angústias os liberta. R.

Do coração atribulado ele está perto*
e conforta os de espírito abatido.
Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos,*
e castigado não será quem nele espera. R.

2ª Leitura - 2Tm 4,6-8.16-18
Agora está reservada para mim a coroa da justiça.

Leitura da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 4,6-8.16-18
Caríssimo: Quanto a mim, eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia;
e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.
Palavra do Senhor.

Evangelho - Lc 18,9-14
O cobrador de impostos voltou para casa justificado, o outro não.

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas
 Naquele tempo: Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda'. O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado.'
Palavra da Salvação.

HOMILIA


O fariseu e o publicano: dois modos de dialogar com Deus
Todos os homens participam da mesma impotência e são solidários no mesmo estado de ruptura com Deus; não podem salvar-se por si mesmos, isto é, não pode entrar sozinhos na amizade de Deus. O primeiro ato de verdade que o homem deve fazer é reconhecer-se ser pecador, impotente para se salvar, e abrir-se pois, à ação de Deus.
Vemos, na parábola, dois modos de conceber o homem e sua relação com Deus. A oração do fariseu é uma ação de graças a Deus. Mas só aparentemente. Na realidade é um pretexto para louvar-se a si mesmo e não a Deus, comprazer-se a si mesmo por não ter pecado algum e pelo mérito das boas obras; diante disso se considera justificado e “exige” de Deus a recompensa. A oração do fariseu não é oração, é seu oposto. O publicano, ao contrário, está “na verdade”: consciente de sua culpa e de não ter méritos diante de Deus. Pede misericórdia A sua é verdadeira oração. Assim, pode-se perceber por trás das duas personagens da parábola a oposição entre dois tipos de justiça: a do homem que pensa poder realiza-la pelo comprimento perfeito da lei, e a que Deus concede ao pecador, que se reconhece como tal e se converte. O tema paulino da justificação mediante a fé já se encontra delineado nesta parábola.
Por que a fé em Cristo “justifica” o homem
O cristão é realmente homem justificado pela fé em Cristo, naquele que é ao mesmo tempo dom substancial do Pai e homem entre os homens e que pôde dar a única resposta agradável a Deus. É este motivo pelo qual a fé em Jesus salva. De fato, Jesus inaugura na sua pessoa o reino do Pai, no qual se realiza o destino do homem. De si, como, de seus irmãos, Jesus exige renúncia absoluta, que implica na fidelidade à condição de criatura: renúncia até a morte e, se necessário, até à morte de cruz. É o salvador do mundo que fala assim.
Como pode esse homem, que levou até as últimas consequências a revelação da condição humana, proclamar-se ao mesmo tempo salvador da humanidade? A esta pergunta há uma só resposta: verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus; Deus amou tanto o mundo que, por isso, lhe deu seu Filho único; ao mesmo tempo, ele é homem entre os homens; a sua fidelidade de criatura é, por identidade, uma fidelidade filial. A resposta ativa deste homem encontra-se perfeitamente com a iniciativa divina da salvação. Como homem,
A fé, fonte de vida nova – vida de filho
A união a Cristo nos torna capazes da mesma “fidelidade filial” até a cruz. O homem é “justificado” porque a fé em Cristo lhe dá acesso ao Pai na qualidade de filho adotivo. A salvação é dom divino; torna-se, no homem, fonte de uma atividade filial, em que se realiza, ilimitadamente, a fidelidade à nova lei do amor. Paulo, o arauto da justificação pela fé, é também a grande testemunha da vida nova que vem da fé em Cristo. Agora, velho, no cárcere, na expectativa da condenação à morte, reflete sobre sua vida. Sua experiência de Cristo termina por um malogro humano: todos abandonaram, nenhum o defendeu em juízo. Mas ele “conservou a fé” combateu por Cristo e permaneceu fiel até a meta final. Sua esperança o leva à certeza da “ recompensa” que receberá de Cristo por sua dedicação e amor a exemplo de Jesus. Hoje a suficiência farisaica
não é mais observância de uma, lei: toma outro nome.

Em muitos ela é a convicção de que o homem pode salvar-se como homem, apelando unicamente para seus recursos. O homem salva o homem mediante a ciência, a política, a mais arte...É por isso mais do que nunca necessário que os cristãos anunciem ao mundo, Cristo como salvador. A salvação que traz não se opõe à salvação humana. Mas a conduz à plenitude. Com a celebração dos sacramentos, especialmente da eucaristia, os cristãos dão testemunho da necessidade da intervenção divina na vida do homem, põem-se sob a ação de Deus presente, com seu espírito, e fazem a experiência privilegiada da justificação obtida mediante a fé em Jesus Cristo, Devem, por isso, estar continuamente vigilantes para não participarem dos sacramentos com espírito farisaico.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A FÉ VERDADEIRA É TRANSFORMADORA E SERVIÇAL!

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


Hab 1,2-3;2,2-4 – Sl 94 – 2Tm 1,6-8.13-14 – Lc17,5-10

A vida cristã se desenvolve da fé. Por isso, o profeta Habacuc afirma que “o justo viverá por sua fé”. A fé acompanhou os patriarcas, alimentou os profetas e sustentou os que creram em Jesus, Essa fé depende também de nosso desejo de crescer. Por isso Paulo insiste que devemos soprar as brasas e reavivar o fogo do dom que nos foi dado.
Como uma sementinha
Os discípulos, na convivência com Jesus, Pediam que lhes ensinasse as realidades do Reino. Ora querem aprender rezar. Jesus ensina o Pai Nosso. Pedem para aumentar sua fé. Jesus diz que sua fé, mesmo sendo muito pequena, teria a força para arrancar uma planta e plantá-la no mar. Duas maravilhas: a força de transplantar e fazê-la crescer onde não e lugar apropriado: no mar. Fé tem uma força sem limites porque está unida ao próprio Deus que a doa a sua gratuitamente. Se é dom gratuito, quando servimos Deus não fazemos nada especial. Estamos agradecendo e fazendo o que devíamos fazer. Deus não tem obrigações para conosco. Por isso, nem nossas atividade fazemos coisa maravilhosas pela força da fé. Abraão partiu para uma terra que ele não sabia onde era... Moisés conduziu o povo no deserto, como se visse o invisível (Hb 11,27) – como lemos na carta aos Hebreus. Jesus dá o testemunho dessa fé quando se encarnação usando as prerrogativas de sua divindade. Nascer em nossa humanidade é pela força da fé é a participação e Deus. Por isso, o justo vive de fé.
A fé e serviçal
A fé é responder e aderir com amor a Deus que chama a si para os irmãos. É dom gratuito dado a todos. Torna-se necessário corresponder a ele com totalidade, Os santos não ficaram santos por dons especiais, mas porque acolheram com totalidade a fé e se puseram a serviço dos irmãos. Jesus faz uma comparação difícil ao primeiro momento: fazer tudo e dizer: somos servos inúteis; fizemos o que devia ser feito (Lc 17,10). Significa que nada que fizemos por ela. Só podemos agradecer. Servir já é agradecer. A fé não é crer num punhado de grandes verdades, mas acolher um dom ao qual respondemos com serviço a Deus feito pelos irmãos. Deus não deve nada a ninguém. Nossa fé reascende na medida em que damos o testemunho e guardamos o precioso depósito da fé com ajuda do Espírito Santo que habita em nós (2Tm 1, 14). Quanto menos cobrarmos de Deus, mais seremos enriquecidos.
A vida é um dom
A vida e plena em todos os momentos. A fé nos leva a aceitar a presença de Deus em cada ser humano desde o primeiro instante de sua concepção. Respeitar a vida do nascituro é crer na esperança colocada em cada pessoa.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo
Ave Maria...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

A RIQUEZA QUE ALIENA DOS BENS DO REINO

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

Am 6,1ª. 4-7 – Sl 145 - 1Tm 6, 11-16 – Lc 16,19- 31


Pobreza e riqueza são tão antigas no mundo. Mas sempre constituíram problemas. As interpretações e soluções são várias. Há os que ligam pobreza e riqueza à sorte e ao acaso. Os que veem na pobreza o sinal da incapacidade e da desordem moral, e na riqueza e o prêmio da inteligência e da virtude. Para outros, é precisamente o contrário: os honestos não enriquecem, porque para enriquecer é preciso ser um tanto inescrupuloso. Riqueza coincide com exploração do homem pelo homem; o rico é ladrão, pronto para tudo a fim de defender privilégios. Surge a desordem, a sociedade violenta. E surge o problema: como fazer justiça? Como dividir com justiça os bens da terra e o fruto do trabalho do homem? Como mudar a ordem das coisas?
Felizes os pobres, ai dos ricos
Na Bíblia também encontramos dupla leitura da pobreza e da riqueza. Por um lado, a pobreza é escândalo, um mal a ser eliminado, um mal que é como cristalização do pecado, enquanto há na riqueza o sinal da bênção de Deus. O amigo de Deus é o homem dotado de todos os bens. O pobre é aquele no qual se manifesta a desordem do mundo.
Mas há também toda uma linha profética que termina no ai de vós os ricos! De Jesus e que vê na riqueza o perigo mais grave de auto -suficiência e de afastamento de Deus e insensibilidade para com o próximo. E em contraposição ao ai de vós, os ricos! Há o felizes os pobres: a pobreza se torna uma espécie de zona privilegiada para a experiência religiosa. O pobre é o amado de Deus; a ele é anunciado o Reino. O pobre é o primeiro destinatário da Boa-nova. A pobreza não é mais a desgraça ou escândalo, mas bem-aventurança. A bem-aventurança do pobre será plenamente revelada depois da morte, com uma inversão da situação (evangelho).

O evangelho é denúncia profética de toda ordem injusta

A parábola do rico e do pobre Lázaro ser considerada então como a aceitação fatalista de uma desordem constituída, na qual os ricos se tornam sempre mais ricos e pobres mais pobres, e em que o rico oprime o pobre? Como consolação alienante para os pobres deste mundo? A religião será o ópio que entorpece e mantém inquietos os pobres? Não é evangélico esse modo de ler a parábola; é uma caricatura do evangelho. O evangelho é denúncia profética de qualquer ordem injusta, e é revelação das causas profundas da injustiça. O pobre pode ser também rico em potencial, e lutar não pela justiça, mas para tomar o lugar dos patrões. O evangelho é apelo à conversão radical para todos, pobres e ricos, conversão a ser feita imediatamente.

...e força de transformação do mundo

A parábola mostra como perspectiva do futuro tem influência sobre o hoje e como relação do homem com o homem incide na sua vida definitiva na presença de Deus. O evangelho é uma força dinâmica de transformação continua. A aventura do amor, inaugurada por Cristo e prosseguida depois dele, convidando o homem a consentir ativamente na lei da liberdade, causou, de fato, mudança progressiva nas relações dos homens...Não é, porém, um manifesto revolucionário nem um programa de reforma em matéria social. É algo maior mais essencial. O evangelho não nos ensina nada sobre revolução. Tentar construir uma teologia da revolução a partir do evangelho é iludir-se e não captar o essencial. No plano dos objetivos e dos meios, os cristãos e os não-cristãos devem apelar para os recursos da razão humana, científica e moral; uns e outros devem procurar soluções eficazes, ainda que os comportamentos concretos possam divergir. Mas os cristãos, conquistados pela aventura do amor e só na medida que aceitam vive-la como Cristo e em seu seguimento, estarão mais atentos em fazer com que ela não degenere em novas opressões e novo legalismo.


Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo...

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SÓ TU TENS PALVRAS DE VIDA ETERNA!

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

Js 24,1-2a.15-17. 18b; Salmo 33 (34); Ef 5,21-32; Jo 6,60-69

A liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum fala-nos de opções. Recorda-nos que a nossa existência pode ser gasta a perseguir valores efêmeros e estéreis, ou a apostar nesses valores eternos que nos conduzem à vida definitiva, à realização plena. Cada homem e cada mulher têm, dia a dia, de fazer a sua escolha.
Na primeira leitura, Josué convida as tribos de Israel reunidas em Siquém a escolherem entre “servir o Senhor” e servir outros deuses. O Povo escolhe claramente “servir o Senhor”, pois viu, na história recente da libertação do Egito e da caminhada pelo deserto, como só Jahwéh pode proporcionar ao seu Povo a vida, a liberdade, o bem estar e a paz.
O Evangelho coloca diante dos nossos olhos dois grupos de discípulos, com opções diversas diante da proposta de Jesus. Um dos grupos, prisioneiro da lógica do mundo, tem como prioridade os bens materiais, o poder, a ambição e a glória; por isso, recusa a proposta de Jesus. Outro grupo, aberto à ação de Deus e do Espírito, está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida; os membros deste grupo sabem que só Jesus tem palavras de vida eterna. É este último grupo que é proposto como modelo aos crentes de todos os tempos
Na segunda leitura, Paulo diz aos cristãos de Éfeso que a opção por Cristo tem consequências também ao nível da relação familiar. Para o seguidor de Jesus, o espaço da relação familiar tem de ser o lugar onde se manifestam os valores de Jesus, os valores do Reino. Com a sua partilha de amor, com a sua união, com a sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e reflexo da união de Cristo com a sua Igreja.

Js 24,1-2a.15-17.18b

MENSAGEM

Estamos, portanto, em Siquém, com “todas as tribos de Israel” (vers. 1) reunidas à volta de Josué. Na interpelação que dirige às tribos, Josué começa por elencar alguns momentos capitais da história da salvação, mostrando ao Povo como Jahwéh é um Deus em quem se pode confiar; as suas ações salvadoras e libertadoras em favor de Israel são uma prova mais do que suficiente do seu poder e da sua fidelidade (cf. Js 24,2-13).
Depois dessa introdução, Josué convida os representantes das tribos presentes a tirarem as devidas consequências e a fazerem a sua opção. É necessário escolher entre servir esse Senhor que libertou Israel da opressão, que o conduziu pelo deserto e que o introduziu na Terra Prometida, ou servir os deuses dos mesopotâmios e os deuses dos amorreus. Josué e a sua família já optaram: eles escolheram servir Jahwéh (vers. 15).
A resposta do Povo é a esperada. Todos manifestam a sua intenção de servir o Senhor, em resposta à sua ação libertadora e à sua proteção ao longo da caminhada pelo deserto (vers. 16-18). Israel compromete-se a renunciar a outros deuses e a fazer de Jahwéh o seu Deus.
A aceitação de Jahwéh como Deus de Israel é apresentada, não como uma obrigação imposta a um grupo de escravos, mas como uma opção livre, feita por pessoas que fizeram uma experiência de encontro com Deus e que sabem que é aí que está a sua realização e a sua felicidade. Depois de percorrer com Jahwéh os caminhos da história, Israel constatou, sem margem para dúvidas, que só em Deus pode encontrar a liberdade e a vida em plenitude.

Salmo 33 (34)
Ef 5,21-32

MENSAGEM

O nosso texto começa com um princípio geral que deve regular as relações entre os diversos membros da família cristã: “sede submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5,21). O “ser submisso” expressa aqui a condição daquele que está permanentemente numa atitude de serviço simples e humilde, sem deixar que a sua relação com o irmão seja dominada pelo orgulho ou marcada por atitudes de prepotência. A expressão “no temor de Cristo” recorda aos crentes que o Cristo do amor, do serviço, da partilha é o exemplo e o modelo que eles devem ter sempre diante dos olhos.
Depois, Paulo dirige-se aos vários membros da família e propõe-lhes normas concretas de conduta. O texto que nos é proposto, contudo, apenas conservou a parte que se refere à relação dos esposos um com o outro (na continuação, Paulo falará também da conduta dos filhos para com os pais, dos pais para com os filhos, dos senhores para com os escravos e dos escravos para com os senhores – cf. Ef 6,1-9).
Às mulheres, Paulo pede a submissão aos maridos, porque “o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu corpo” (vers. 23). Esta afirmação – que, à luz da nossa sensibilidade e dos nossos esquemas mentais modernos parece discriminatória – deve ser entendida no contexto sócio-cultural da época, onde o homem aparece como a referência suprema da organização do núcleo familiar. De qualquer forma, a “submissão” de que Paulo fala deve ser sempre entendida no sentido do amor e do serviço e não no sentido da escravidão.
Aos maridos, Paulo recomenda que amem as suas esposas, “como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela” (vers. 25). Não se trata de um amor qualquer, mas de um amor igual ao de Cristo pela sua comunidade – isto é, de um amor generoso e total, que é capaz de ir até ao dom da própria vida. Para Paulo, portanto, o amor dos maridos pelas esposas deve ser um amor completamente despido de qualquer sinal de egoísmo e de prepotência; e deve ser um amor cheio de solicitude, que se manifesta em atitudes de generosidade, de bondade e de serviço, que se faz dom total à pessoa a quem se ama.
Neste contexto, Paulo desenvolve a sua teologia da relação entre Cristo e a Igreja, para depois tirar daí as devidas consequências para a união dos esposos cristãos… Cristo santificou a Igreja, purificando-a “no batismo da água pela palavra da vida” (vers. 26). Há aqui, certamente, uma alusão ao batismo cristão (inspirada, provavelmente, nas cerimônias preparatórias do matrimônio, que contemplavam o “banho” da noiva antes de se apresentar diante do noivo), pelo qual Cristo edifica a sua comunidade e a purifica do pecado. O Batismo é o momento em que Cristo oferece a vida plena à sua Igreja e em que a Igreja se compromete com Cristo numa comunidade de amor. A partir desse momento, Cristo e a Igreja formam um só corpo… Como Cristo e a Igreja formam um só corpo, do mesmo modo marido e esposa, comprometidos numa comunidade de amor, formam um só corpo: “por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e serão dois numa só carne” (vers. 31). A expressão “uma só carne” aqui usada por Paulo não alude só à união carnal dos esposos, mas a toda a sua vida conjugal, feita de um empenho quotidiano na vivência do amor, da fidelidade e da partilha de toda a existência.
Este paralelismo estabelecido por Paulo entre a união de Cristo e da Igreja e o amor que une os esposos dá um significado especial ao casamento cristão: a vocação dos esposos é anunciar e testemunhar, com o seu amor e a sua união, o amor de Cristo pela sua Igreja. Dito de outra forma: a união dos esposos cristãos deve ser, aos olhos do mundo, um sinal e um reflexo do “mistério” de amor que une Cristo e a Igreja.

Jo 6,60-69

A perícopa divide-se em duas partes. A primeira (vers. 60-66) descreve o protesto de um grupo de discípulos face às exigências de Jesus; a segunda (vers. 67-69) apresenta a resposta dos Doze à proposta que Jesus faz. Estes dois grupos (os “muitos discípulos” da primeira parte e os “Doze” da segunda parte) representam duas atitudes distintas face a Jesus e às suas propostas.
Para os “discípulos” de que se fala na primeira parte do nosso texto, a proposta de Jesus é inadmissível, excessiva para a força humana (vers. 60). Eles não estão dispostos a renunciar aos seus próprios projetos de ambição e de realização humana, a embarcar com Jesus no caminho do amor e da entrega, a fazer da própria vida um serviço e uma partilha com os irmãos. Esse caminho parece-lhes, além de demasiado exigente, um caminho ilógico. Confrontados com a radicalidade do caminho do Reino, eles não estão dispostos a arriscar.
Na resposta à objeção desses “discípulos”, Jesus assegura-lhes que o caminho que propõe não é um caminho de fracasso e de morte, mas é um caminho destinado à glória e à vida eterna. A “subida” do Filho do Homem, após a morte na cruz, para reentrar no mundo de Deus, será a “prova provada” de que a vida oferecida por amor conduz à vida em plenitude (vers. 61-62). Esses “discípulos” não estão dispostos a acolher a proposta de Jesus porque raciocinam de acordo com uma lógica humana, a lógica da “carne”; só o dom do Espírito possibilitará aos crentes perceber a lógica de Jesus, aderir à sua proposta e seguir Jesus nesse caminho do amor e da doação que conduz à vida (vers. 63).
Na realidade, esses discípulos que raciocinam segundo a lógica da “carne” seguem Jesus pelas razões erradas (a glória, o poder, a fácil satisfação das necessidades materiais mais básicas). A sua adesão a Jesus é apenas exterior e superficial. Jesus tem consciência clara dessa realidade. Ele sabe até que um dos “discípulos” O vai trair e entregar nas mãos dos líderes judaicos (vers. 64). De qualquer forma, Jesus encara a decisão dos discípulos com tranquilidade e serenidade. Ele não força ninguém; apenas apresenta a sua proposta – proposta radical e exigente – e espera que o “discípulo” faça a sua opção, com toda a liberdade.
Em última análise, a vida nova que Jesus propõe é um dom de Deus, oferecido a todos os homens (vers. 65). O termo deste movimento que o Pai convida o “discípulo” a fazer é o encontro com Jesus e a adesão ao seu projecto. Se o homem não está aberto à acção do Pai e recusa os dons de Deus, não pode integrar a comunidade dos discípulos e seguir Jesus.
A primeira parte da cena termina com a retirada de “muitos discípulos” (vers. 66). O programa exposto por Jesus, que exige a renúncia às lógicas humanas de ambição e de realização pessoal, é recusado… Esses “discípulos” mostram-se absolutamente indisponíveis para percorrer o caminho de Jesus.
Confirmada a deserção desses “discípulos”, Jesus pede ao grupo mais restrito dos “Doze” que façam a sua escolha: “também vós quereis ir embora?” (vers. 67). Repare-se que Jesus não suaviza as suas exigências, nem atenua a dureza das suas palavras… Ele está disposto a correr o risco de ficar sem discípulos, mas não está disposto a prescindir da radicalidade do seu projecto. Não é uma questão de teimosia ou de não querer dar o braço a torcer; mas Jesus está seguro que o caminho que Ele propõe – o caminho do amor, do serviço, da partilha, da entrega – é o único caminho por onde é possível chegar à vida plena… Por isso, Ele não pode mudar uma vírgula ao seu discurso e à sua proposta. O caminho para a vida em plenitude já foi claramente exposto por Jesus; resta agora aos “discípulos” aceitá-lo ou rejeitá-lo.
Confrontados com esta opção fundamental, os “Doze” definem claramente o caminho que querem percorrer: eles aceitam a proposta de Jesus, aceitam segui-l’O no caminho do amor e da entrega. Quem responde em nome do grupo (uso do plural) é Simão Pedro: “Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (vers. 68). A comunidade reconhece, pela voz de Pedro, que só no caminho proposto por Jesus encontra vida definitiva. Os outros caminhos só geram vida efêmera e parcial e, com frequência, conduzem à escravidão e à morte; só no caminho que Jesus acabou de propor (e que “muitos” recusaram) se encontra a felicidade duradoura e a realização plena do homem (vers. 68).
É porque reconhece em Jesus o único caminho válido para chegar à vida eterna que a comunidade dos “Doze” adere ao que Ele propõe (“cremos” – vers. 69a). A “fé” (adesão a Jesus) traduz-se no seguimento de Jesus, na identificação com Ele, no compromisso com a proposta que Ele faz (“comer a carne e beber o sangue” que Jesus oferece e que dão a vida eterna).
A resposta posta na boca de Pedro é precisamente a resposta que a comunidade joânica (a tal comunidade que vive a sua fé e o seu compromisso cristão em condições difíceis e que, por vezes, tem dificuldade em renunciar à lógica do mundo e apostar na radicalidade do Evangelho de Jesus) é convidada a dar: “Senhor, as tuas propostas nem sempre fazem sentido à luz dos valores que governam o nosso mundo; mas nós estamos seguros de que o caminho que Tu nos indicas é um caminho que leva à vida eterna. Queremos escutar as tuas palavras, identificar-nos contigo, viver de acordo com os valores que nos propões, percorrer contigo esse caminho do amor e da doação que conduz à vida eterna.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MARIA IMAGEM DA IGREJA

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA ANO B

Ap 11,19ª; 12.1-3-6ª-10ab; 1Cor 15,20-27ª; Lc 1,39-56
"Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança do vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável o vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida".
Trata-se de uma verdade de fé, um dogma, proclamada pelo Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950: "Terminando o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória celestial". Ali a esperava o seu Filho Jesus, com o seu corpo glorioso, tal como Ela o tinha contemplado depois da Ressurreição.
A 1ª Leitura (Ap 11, 19; 12, 1-10) apresenta uma mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés, e do Filho que ela deu à luz, um varão, que irá reger todas as nações. Nesta imagem a Mulher e o Filho representam Jesus Cristo e a Igreja, mais a mulher confunde-se também com Maria, pois nela realizou-se plenamente a Igreja.
A 2ª Leitura (1 Cor 15, 20-27) completa a idéia da 1ª. Paulo, falando de Cristo, primícias dos ressuscitados, termina dizendo que, um dia, todos os que crêem terão parte na Sua glorificação, mas em proporção diversa: "Primeiro, Cristo, como os primeiros frutos da seara; e a seguir, os que pertencem a Cristo" (1 Cor 15, 23). Entre os cristãos, o primeiro lugar pertence, sem dúvida, a Nossa Senhora, que foi sempre de Deus, porque jamais conheceu o pecado. É a única criatura em quem o esplendor da imagem de Deus nunca se viu ofuscado; é a Imaculada Conceição, a obra prima e intacta da Santíssima Trindade em quem o Pai, o Filho e o Espírito Santo sentiram as suas complacências, encontrando nela uma resposta total ao Seu amor.
A resposta de Maria ao amor de Deus ressoa no Evangelho (Lc 1, 35-56), tanto nas palavras de Isabel que exaltam a grande fé que levou Maria a aderir, sem vacilação alguma à vontade de Deus, como nas palavras da própria Virgem, que entoa um hino de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizou nela.
Ela é a nossa grande intercessora junto do Altíssimo. Maria nunca deixa de ajudar os que recorrem ao seu amparo: "Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção fosse por Vós desamparado", rezava São Bernardo. Procuremos confiar mais na sua intercessão, persuadidos de que Ela é a Rainha dos céus e da terra, o refúgio dos pecadores, e peçamos-lhe com simplicidade: Mostrai-nos Jesus!
A Assunção de Maria é uma preciosa antecipação da nossa ressurreição e baseia-se na ressurreição de Cristo, que transformará o nosso corpo corruptível, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso. Por isso São Paulo recorda-nos (1 Cor 15, 20-26): "Se a morte veio por um homem (pelo pecado de Adão), também por um homem, Cristo, veio a ressurreição. Por Ele, todos retornarão à vida, mas cada um a seu tempo: como primícias, Cristo; em seguida, quando Ele voltar, todos os que são de Cristo; depois , os últimos, quando Cristo devolver a Deus Pai o seu reino…Essa vinda de Cristo, de que fala o Apóstolo, disse o Papa João Paulo II, "não devia por acaso cumprir-se, neste único caso (o da Virgem), de modo excepcional, por dizê-lo assim, imediatamente, quer dizer, no momento da conclusão da sua vida terrena? Esse final da vida que para todos os homens é a morte, a Tradição, no caso de Maria, chama-o com mais propriedade dormição.  Para nós, a Solenidade de hoje é como uma continuação da Páscoa, da Ressurreição e da Ascensão do Senhor.  E é, ao mesmo tempo, o sinal e a fonte da esperança da vida eterna e da futura ressurreição".
A Solenidade de hoje enche-nos de confiança nas nossas súplicas. Pois, diz São Bernardo, "subiu aos céus a nossa Advogada para, como Mãe do Juiz e Mãe de Misericórdia, tratar dos negócios da nossa esperança." Ela alenta continuamente a nossa esperança. Ensina São Josemaria Escrivá: "Somos ainda peregrinos, mas a nossa Mãe precedeu-nos e indica-nos já o termo do caminho: repete-nos que é possível lá chegarmos, e que lá chegaremos, se formos fiéis. Porque a Santíssima Virgem não é apenas nosso exemplo: é auxílio dos cristãos. E ante a nossa súplica – mostra que és Mãe – , não sabe nem quer negar-se a cuidar dos seus filhos com solicitude maternal.
Fixemos o nosso olhar em Maria, já assunta aos céus. Ela é a certeza e a prova de que os seus filhos estarão um dia com o corpo glorificado junto de Cristo glorioso. A nossa aspiração à vida eterna ganha asas ao meditarmos que a nossa Mãe celeste está lá em cima, que nos vê e nos contempla com o seu olhar cheio de ternura, com tanto mais amor quanto mais necessitados nos vê.