34º
Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Rei do Universo.
As leituras deste domingo
falam-nos do Reino de Deus (esse Reino de que Jesus é rei). Apresentam-no como
uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na
história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de
vir.
A primeira leitura utiliza a
imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir a sua relação com os
homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e o seu papel na
condução do seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a
preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.
O Evangelho apresenta-nos, num
quadro dramático, o “rei” Jesus a interpelar os seus discípulos acerca do amor
que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os
desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a
indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem
insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
Na segunda leitura, Paulo lembra
aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse
“Reino de Deus” de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino
definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e atuará como Senhor de todas as
coisas .
1LEITURA – Ez 34,11-12.15-17
Leitura da Profecia de Ezequiel
Assim diz o Senhor Deus: “Vede eu mesmo vou procurar minhas ovelhas
e tomar conta delas. Como pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se
encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e
vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens
e escuridão.
Eu mesmo vou apascentar as minhas ovelhas e fazê-las repoursar-
oráculo do Senhor Deus- Vou procurar ovelhas perdida, reconduzir a extraviada a
da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou
apascentá-las conforme direito.
Quanto vós,
minhas ovelhas,- assim diz o Senhor Deus – eu farei justiça entre uma ovelha e
outra, entre carneiros e bodes”.
ACTUALIZAÇÃO
A imagem
bíblica do Bom Pastor é uma imagem privilegiada para apresentar Deus e para
definir a sua relação com os homens. Sublinha a sua autoridade e o seu papel na
condução do seu Povo pelos caminhos da história; mas, sobretudo, sublinha a
preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo. Na nossa
cultura urbana, já nem todos entendem a figura do “pastor”; mas todos são
convidados a entregar-se nas mãos de Deus, a confiar totalmente n’Ele, a
deixar-se conduzir por Ele, a fazer a experiência do seu amor e da sua bondade.
É uma experiência tranquilizante e libertadora, que nos traz serenidade e paz.
Também aqui,
a questão não é se Deus é ou não “pastor” (Ele é sempre “pastor”!); mas é se
estamos ou não dispostos a segui-l’O, a deixar-nos conduzir por Ele, a confiar
n’Ele para atravessar vales sombrios, a deixar-nos levar ao colo por Ele para
que os nossos pés não se firam nas pedras do caminho. Uma certa cultura
contemporânea assegura-nos que só nos realizaremos se nos libertarmos de Deus e
formos os guias de nós próprios. O que escolhemos para nos conduzir à
felicidade e à vida plena: Deus ou o nosso orgulho e auto-suficiência?
Às vezes, fugindo de Deus, agarramo-nos a
outros “pastores” e fazemos deles a nossa referência, o nosso líder, o nosso
ídolo. O que é que nos conduz e condiciona as nossas opções: a riqueza e o
poder? Os valores ditados por aqueles que têm a pretensão de saber tudo? O
política e socialmente correcto? A opinião pública? O presidente do partido? O
comodismo e a instalação? A preservação dos nossos esquemas egoístas e dos
nossos privilégios? O êxito e o triunfo a qualquer custo? O herói mais giro da
telenovela? O programa de maior audiência da estação televisiva de maior
audiência?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22
(23)
Refrão: O Senhor é o pastor que me conduz;
Não me falta coisa alguma.
Pelos prados
e campinas verdejantes*
Ele me leva
a descansar.
Para as
águas repousantes me encaminha*
E restaura as minha forças.
Preparais á
minha frente uma mesa,*
Bem vista do
inimigo,
E com óleo
vós ungis minha cabeça;*
O meu cálice
transborda.
Felicidade e
todo bem hão de seguir-me*
Por toda a
minha vida;
e, na casa
do Senhor, habitarei*
Pelos tempos infinitos.
II LEITURA – 1 Cor 15,20-26.28
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: na realidade Cristo
ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Com efeito, por um
homem, veio morte, e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos.
Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada
qual segunda uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias;
depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.
A seguir, será o fim, quando Ele entregar a realeza a Deus Pai, depois de destruir todo
principado e todo o poder e força. Pois é preciso que ele reine, até que todos
os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído
é a morte.
E, quando todas as coisas estiverem submetidas, a ele, então o próprio Filho se
submeterá áquele que submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos
ACTUALIZAÇÃO
• O nosso texto garante-nos que
a meta final da nossa caminhada é o Reino de Deus – isto é, uma realidade de
vida plena e definitiva, de onde a doença, a tristeza, o sofrimento, a
injustiça, a prepotência, a morte estarão ausentes. Convém ter sempre presente
esta realidade, ao longo da nossa peregrinação pela terra… A nossa vida
presente não é um drama absurdo, sem sentido e sem finalidade; é uma caminhada
tranquila, confiante – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em direcção
a esse desabrochar pleno, a essa vida total que Deus nos reserva.
• Como é que aí chegamos? Paulo
responde: identificando-nos com Cristo. A ressurreição de Cristo é o “selo de
garantia” de Deus para uma vida oferecida ao projecto do Reino… Demonstra que
uma vida vivida na escuta atenta dos projectos do Pai e no amor e no serviço
aos homens conduz à vida plena; demonstra que uma vida gasta na luta contra o
egoísmo, a opressão e o pecado conduz à vida definitiva; demonstra que uma vida
gasta ao serviço da construção do Reino conduz à vida verdadeira… Se a nossa
vida for gasta do mesmo jeito, seguiremos Cristo na ressurreição, atingiremos a
vida nova do Homem Novo e estaremos para sempre com Ele nesse Reino livre do
sofrimento, do pecado e da morte que Deus reserva para os seus filhos.
• Descobrir que o Reino da vida
definitiva é a nossa meta final significa eliminar definitivamente o medo que
nos impede de actuar e de assumir um papel de protagonismo na construção de um
mundo novo. Quem tem no horizonte final da sua vida o Reino de Deus, pode
comprometer-se na luta pela justiça e pela paz, com a certeza de que a
injustiça, a opressão, a oposição dos poderosos, a morte não podem pôr fim à
vida que o anima. Ter como meta final o Reino significa libertarmo-nos do medo
que nos paralisa e encontrarmos razões para um compromisso mais consequente com
Deus, com o mundo e com os homens
ALELUIA – Mc 11,9.10
Aleluia. Aleluia.
Bendito O que vem em nome do Senhor!
Bendito o reino do nosso pai David!
EVANGELHO – Mt 25,31-46
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o
Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se
reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as
ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua
esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, bem ditos
de meu Pai;recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação
do mundo. Porque tive fome e destes-Me
de comer;tive sede e destes-me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não
tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na
prisão e fostes ver-Me’.
Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos
de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e te
recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na
prisão e Te fomos ver?’ E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas
vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,a Mim o fizestes’.Dirá então aos que
estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo
eterno, preparado para o demónio e os
seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer;tive sede e não Me destes
de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me
vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também
eles Lhe hão-de perguntar: ‘Senhor,
quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou
na prisão, e não Te prestámos assistência?’ E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos
mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício
eterno e os justos para a vida eterna»
ACTUALIZAÇÃO
• Quem é que
a nossa sociedade considera uma “pessoa de sucesso”? Qual o perfil do homem
“importante”? Quais são os padrões usados pela nossa cultura para aferir a
realização ou a não realização de alguém? No geral, o “homem de sucesso”, que
todos reconhecem como importante e realizado, é aquele que tem dinheiro
suficiente para concretizar todos os sonhos e fantasias, que tem poder
suficiente para ser temido, que tem êxito suficiente para juntar à sua volta
multidões de aduladores, que tem fama suficiente para ser invejado, que tem
talento suficiente para ser admirado, que tem a pouca vergonha suficiente para
dizer ou fazer o que lhe apetece, que tem a vaidade suficiente para se
apresentar aos outros como modelo de vida… No entanto, de acordo com a parábola
que o Evangelho propõe, o critério fundamental usado por Jesus para definir
quem é uma “pessoa de sucesso” é a capacidade de amar o irmão, sobretudo o mais
pobre e desprotegido. Para mim, o que é que faz mais sentido: o critério do
mundo ou o critério de Deus? Na minha perspectiva, qual é mais útil e
necessário: o “homem de sucesso” do mundo ou o “homem de sucesso” de Deus?
• O amor ao
irmão é, portanto, uma condição essencial para fazer parte do Reino. Nós
cristãos, cidadãos do Reino, temos consciência disso e sentimo-nos responsáveis
por todos os irmãos que sofrem? Os que não têm trabalho, nem pão, nem casa,
podem contar com a nossa solidariedade activa? Os imigrantes, perdidos numa
realidade cultural e social estranha, vítimas de injustiças e violências,
condenados a um trabalho escravo e que, tantas vezes, não respeita a sua
dignidade, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os pobres, vítimas de
injustiças, que nem sequer têm a possibilidade de recorrer aos tribunais para
que lhes seja feita justiça, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os
que sobrevivem com pensões de miséria, sem possibilidades de comprar os
medicamentos necessários para aliviar os seus padecimentos, podem contar com a
nossa solidariedade activa? Os que estão sozinhos, abandonados por todos, sem
amor nem amizade, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os que estão
presos a um leito de hospital ou a uma cela de prisão, marginalizados e
condenados em vida, podem contar com a nossa solidariedade activa?
• O Reino de
Deus – isto é, esse mundo novo onde reinam os critérios de Deus e que se
constrói de acordo com os valores de Deus – é uma semente que Jesus semeou, que
os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá
o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir. Não esqueçamos, no entanto, este
facto essencial: o Reino de Deus está no meio de nós; a nossa missão é fazer
com que ele seja uma realidade bem viva e bem presente no nosso mundo. Depende
de nós fazer com que o Reino deixe de ser uma miragem, para passar a ser uma
realidade a crescer e a transformar o mundo e a vida dos homens.
• Alguém
acusou a religião cristã de ser o “ópio do povo”, por pôr as pessoas a sonhar
com o mundo que há-de vir, em lugar de as levar a um compromisso efectivo com a
transformação do mundo, aqui e agora. Na verdade, nós os cristãos caminhamos ao
encontro do mundo que há-de vir, mas de pés bem assentes na terra, atentos à
realidade que nos rodeia e preocupados em construir, desde já, um mundo de
justiça, de fraternidade, de liberdade e de paz. A experiência religiosa não
pode, nunca, servir-nos de pretexto para a evasão, para a fuga às
responsabilidades, para a demissão das nossas obrigações para com o mundo e
para com os irmãos.