segunda-feira, 24 de novembro de 2014

VIGIAI: NÃO SABEIS QUANDO O DONO DA CASA VEM.



1º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B

 

 Advento significa chegada. É a chegada de Cristo. Tem havido muita incompreensão do significado desta vinda e chegada de Cristo. Para entendê-la, vejamos o que é a compreensão do Advento, na Liturgia.
O Tempo do Advento consta de quatro semanas. Estas quatro semanas são divididas em dois momentos: o primeiro vai até o dia 16 de dezembro. Consta, em geral, de dois domingos. A Igreja nos convida a refletir sobre a segunda vinda de Cristo.
 De 17 a 24 de dezembro, as comunidades e os cristãos preparam a comemoração do Natal. O Natal, como sabemos, recorda o nascimento de Cristo que se encarnou no seio da Virgem Maria.
O evangelista que nos proporá a Palavra de Deus, neste novo Ano Litúrgico B, é São Marcos. Seguindo esta introdução, vamos acompanhar a celebração do primeiro domingo do Advento, na espera da segunda vinda de Cristo.
(Mc 13, 33-37)
 Saber o dia e a hora do fim dos tempos é curiosidade que Jesus Cristo não quer satisfazer, porque não coopera em nada para o Reino.
Estamos iniciando um novo Ano Litúrgico com o Tempo do Advento. O Tempo do Advento nos leva a refletir em torno das duas vindas de Cristo.
A primeira vinda de Cristo já aconteceu: o nascimento do Filho de Deus feito gente como nós. É o fato histórico que comemoramos no Natal.
A segunda vinda ainda não aconteceu. Ela acontecerá no fim dos tempos. Jesus Cristo prometeu que voltaria ao mundo no final dos tempos.
A primeira vinda de Cristo garante a segunda vinda. Assim como ele veio uma primeira vez, virá uma segunda vez. Na primeira vez, ele veio para iniciar a obra da salvação. Aquilo que foi iniciado na primeira vinda será completado na segunda vinda. Logo, a Igreja faz bem em convidar-nos a refletir em torno das duas vindas. Ambas são importantes para a humanidade.
Interessa, agora, perguntar-nos o que temos a ver com estas duas vindas de Cristo. Da primeira, já sabemos tudo. Da segunda, o que sabemos? Com relação à primeira vinda de Cristo, no Natal, nada mais podemos fazer: ela já aconteceu. O nosso compromisso é com a segunda vinda. Esta sim podemos e devemos preparar. Como prepará-la, se não sabemos dia e hora em que irá acontecer?
A Palavra que acolhemos, hoje, do profeta Isaías e do apóstolo Paulo, já dão a direção de nossa reflexão. As palavras do Evangelho completam. Com certeza, tanto a primeira vinda de Cristo como a segunda, têm como finalidade o nosso bem, a nossa felicidade. Deus nunca se manifesta para condenar o povo de Deus. O próprio acontecimento do dilúvio, a que Jesus se refere no Evangelho, aconteceu não como castigo, mas como purificação da humanidade. De acontecimentos como o dilúvio, surge sempre uma nova etapa no caminho da salvação.
Pois aí está o ponto chave da nossa reflexão neste domingo. A segunda vinda de Cristo, como a primeira, será para nossa felicidade. Isto parece difícil de entender, porque fomos formados, desde muito tempo, para ter medo da segunda vinda de Cristo. Na verdade, interessa cultivar a esperança na segunda vinda de Cristo. Esperança de quê?
A esperança da segunda vinda de Cristo tem por base o mundo novo que vai surgir. O fim dos tempos – anunciado na Bíblia – não significa alguma coisa pavorosa, mas esperançosa. Por que razão esperançosa? Porque haverá “novo céu e nova terra”. Não se trata tanto do fim do mundo, mas do começo do céu. Para que o novo aconteça, é preciso que termine o velho. Deus não quer destruir o nosso mundo, mas quer transformá-lo.
Aí está o nosso envolvimento com a preparação da segunda vinda de Cristo. Assim como o povo judeu preparou, por muitos séculos, a primeira vinda de Cristo, nós vamos preparar a segunda vinda. Na primeira vinda, ele veio como o MESSIAS esperado para construir o povo de Deus. Nós não o aguardamos mais como MESSIAS, mas como o DEUS FIEL que vai cumprir suas promessas de um mundo de paz e felicidade.
Daí a nossa vigilância. Nossa vigilância não significa que não sabemos o que virá. Sabemos que nos esforçamos para construir o Reino de Deus já aqui na terra, até que ele venha para dar o toque final. Tudo o que fizermos de bom é em preparação ao novo céu e a nova terra, onde tudo será sempre bem; onde todos serão bons.
Então, temos condição de perceber que a esperança de um mundo transformado provoca nossa vigilância. Não se trata de ter medo, mas de cultivar a esperança. Nossa tarefa, neste Advento, é levar a esperança que cultivamos em nós, para os demais irmãos e irmãs. Para que todo o povo reacenda a esperança. Vale a pena, a gente se comprometer com a causa do Reino de Deus, porque, quando Cristo vier a segunda vez, o Reino irá começar pra valer!

terça-feira, 18 de novembro de 2014

"CRISTO, SENHOR DOS TEMPOS E DOS HOMENS"

34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

As leituras deste domingo falam-nos do Reino de Deus (esse Reino de que Jesus é rei). Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir.
A primeira leitura utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.
O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o “rei” Jesus a interpelar os seus discípulos acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse “Reino de Deus” de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e atuará como Senhor de todas as coisas .
1LEITURA – Ez 34,11-12.15-17
Leitura da Profecia de Ezequiel
Assim diz o Senhor Deus: “Vede eu mesmo vou procurar minhas ovelhas
e tomar conta delas. Como pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens e escuridão.
Eu mesmo vou apascentar as minhas ovelhas e fazê-las repoursar- oráculo do Senhor Deus- Vou procurar ovelhas perdida, reconduzir a extraviada a da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-las conforme direito.
Quanto vós, minhas ovelhas,- assim diz o Senhor Deus – eu farei justiça entre uma ovelha e outra, entre carneiros e bodes”.
ACTUALIZAÇÃO
A imagem bíblica do Bom Pastor é uma imagem privilegiada para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. Sublinha a sua autoridade e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; mas, sobretudo, sublinha a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo. Na nossa cultura urbana, já nem todos entendem a figura do “pastor”; mas todos são convidados a entregar-se nas mãos de Deus, a confiar totalmente n’Ele, a deixar-se conduzir por Ele, a fazer a experiência do seu amor e da sua bondade. É uma experiência tranquilizante e libertadora, que nos traz serenidade e paz.
Também aqui, a questão não é se Deus é ou não “pastor” (Ele é sempre “pastor”!); mas é se estamos ou não dispostos a segui-l’O, a deixar-nos conduzir por Ele, a confiar n’Ele para atravessar vales sombrios, a deixar-nos levar ao colo por Ele para que os nossos pés não se firam nas pedras do caminho. Uma certa cultura contemporânea assegura-nos que só nos realizaremos se nos libertarmos de Deus e formos os guias de nós próprios. O que escolhemos para nos conduzir à felicidade e à vida plena: Deus ou o nosso orgulho e auto-suficiência?
 Às vezes, fugindo de Deus, agarramo-nos a outros “pastores” e fazemos deles a nossa referência, o nosso líder, o nosso ídolo. O que é que nos conduz e condiciona as nossas opções: a riqueza e o poder? Os valores ditados por aqueles que têm a pretensão de saber tudo? O política e socialmente correcto? A opinião pública? O presidente do partido? O comodismo e a instalação? A preservação dos nossos esquemas egoístas e dos nossos privilégios? O êxito e o triunfo a qualquer custo? O herói mais giro da telenovela? O programa de maior audiência da estação televisiva de maior audiência?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23)
Refrão: O Senhor é o pastor que me conduz;
Não me falta coisa alguma.
Pelos prados e campinas verdejantes*
Ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha*
E restaura as minha forças.
Preparais á minha frente uma mesa,*
Bem vista do inimigo,
E com óleo vós ungis minha cabeça;*
O meu cálice transborda. 
Felicidade e todo bem hão de seguir-me*
Por toda a minha vida;
e, na casa do Senhor, habitarei*
Pelos tempos infinitos.
II LEITURA – 1 Cor 15,20-26.28
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: na realidade Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem, veio morte, e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segunda uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.
A seguir, será o fim, quando Ele entregar a realeza  a Deus Pai, depois de destruir todo principado e todo o poder e força. Pois é preciso que ele reine, até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte.
E, quando todas as coisas estiverem submetidas, a ele, então o próprio Filho se submeterá áquele que submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos
ACTUALIZAÇÃO
• O nosso texto garante-nos que a meta final da nossa caminhada é o Reino de Deus – isto é, uma realidade de vida plena e definitiva, de onde a doença, a tristeza, o sofrimento, a injustiça, a prepotência, a morte estarão ausentes. Convém ter sempre presente esta realidade, ao longo da nossa peregrinação pela terra… A nossa vida presente não é um drama absurdo, sem sentido e sem finalidade; é uma caminhada tranquila, confiante – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em direcção a esse desabrochar pleno, a essa vida total que Deus nos reserva.
• Como é que aí chegamos? Paulo responde: identificando-nos com Cristo. A ressurreição de Cristo é o “selo de garantia” de Deus para uma vida oferecida ao projecto do Reino… Demonstra que uma vida vivida na escuta atenta dos projectos do Pai e no amor e no serviço aos homens conduz à vida plena; demonstra que uma vida gasta na luta contra o egoísmo, a opressão e o pecado conduz à vida definitiva; demonstra que uma vida gasta ao serviço da construção do Reino conduz à vida verdadeira… Se a nossa vida for gasta do mesmo jeito, seguiremos Cristo na ressurreição, atingiremos a vida nova do Homem Novo e estaremos para sempre com Ele nesse Reino livre do sofrimento, do pecado e da morte que Deus reserva para os seus filhos.
• Descobrir que o Reino da vida definitiva é a nossa meta final significa eliminar definitivamente o medo que nos impede de actuar e de assumir um papel de protagonismo na construção de um mundo novo. Quem tem no horizonte final da sua vida o Reino de Deus, pode comprometer-se na luta pela justiça e pela paz, com a certeza de que a injustiça, a opressão, a oposição dos poderosos, a morte não podem pôr fim à vida que o anima. Ter como meta final o Reino significa libertarmo-nos do medo que nos paralisa e encontrarmos razões para um compromisso mais consequente com Deus, com o mundo e com os homens
ALELUIA – Mc 11,9.10

Aleluia. Aleluia.
Bendito O que vem em nome do Senhor!
Bendito o reino do nosso pai David!

EVANGELHO – Mt 25,31-46
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
 disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, bem ditos de meu Pai;recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo.  Porque tive fome e destes-Me de comer;tive sede e destes-me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’.
Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’ E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,a Mim o fizestes’.Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno,  preparado para o demónio e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer;tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar:  ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’ E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna»
ACTUALIZAÇÃO
• Quem é que a nossa sociedade considera uma “pessoa de sucesso”? Qual o perfil do homem “importante”? Quais são os padrões usados pela nossa cultura para aferir a realização ou a não realização de alguém? No geral, o “homem de sucesso”, que todos reconhecem como importante e realizado, é aquele que tem dinheiro suficiente para concretizar todos os sonhos e fantasias, que tem poder suficiente para ser temido, que tem êxito suficiente para juntar à sua volta multidões de aduladores, que tem fama suficiente para ser invejado, que tem talento suficiente para ser admirado, que tem a pouca vergonha suficiente para dizer ou fazer o que lhe apetece, que tem a vaidade suficiente para se apresentar aos outros como modelo de vida… No entanto, de acordo com a parábola que o Evangelho propõe, o critério fundamental usado por Jesus para definir quem é uma “pessoa de sucesso” é a capacidade de amar o irmão, sobretudo o mais pobre e desprotegido. Para mim, o que é que faz mais sentido: o critério do mundo ou o critério de Deus? Na minha perspectiva, qual é mais útil e necessário: o “homem de sucesso” do mundo ou o “homem de sucesso” de Deus?
• O amor ao irmão é, portanto, uma condição essencial para fazer parte do Reino. Nós cristãos, cidadãos do Reino, temos consciência disso e sentimo-nos responsáveis por todos os irmãos que sofrem? Os que não têm trabalho, nem pão, nem casa, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os imigrantes, perdidos numa realidade cultural e social estranha, vítimas de injustiças e violências, condenados a um trabalho escravo e que, tantas vezes, não respeita a sua dignidade, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os pobres, vítimas de injustiças, que nem sequer têm a possibilidade de recorrer aos tribunais para que lhes seja feita justiça, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os que sobrevivem com pensões de miséria, sem possibilidades de comprar os medicamentos necessários para aliviar os seus padecimentos, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os que estão sozinhos, abandonados por todos, sem amor nem amizade, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os que estão presos a um leito de hospital ou a uma cela de prisão, marginalizados e condenados em vida, podem contar com a nossa solidariedade activa?
• O Reino de Deus – isto é, esse mundo novo onde reinam os critérios de Deus e que se constrói de acordo com os valores de Deus – é uma semente que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir. Não esqueçamos, no entanto, este facto essencial: o Reino de Deus está no meio de nós; a nossa missão é fazer com que ele seja uma realidade bem viva e bem presente no nosso mundo. Depende de nós fazer com que o Reino deixe de ser uma miragem, para passar a ser uma realidade a crescer e a transformar o mundo e a vida dos homens.
• Alguém acusou a religião cristã de ser o “ópio do povo”, por pôr as pessoas a sonhar com o mundo que há-de vir, em lugar de as levar a um compromisso efectivo com a transformação do mundo, aqui e agora. Na verdade, nós os cristãos caminhamos ao encontro do mundo que há-de vir, mas de pés bem assentes na terra, atentos à realidade que nos rodeia e preocupados em construir, desde já, um mundo de justiça, de fraternidade, de liberdade e de paz. A experiência religiosa não pode, nunca, servir-nos de pretexto para a evasão, para a fuga às responsabilidades, para a demissão das nossas obrigações para com o mundo e para com os irmãos.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

CONVOCADOS PARA A LIBERDADE DE FILHOS DE DEUS


 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO - A

Pr 31,10-13.19,20.30-31; SI 127; ITs 5,1-6; Mt 25,14-30
 Antecedendo à celebração de Cristo Rei, a liturgia de hoje centra--se na pectiva do dia do Senhor. Mesmo mantendo sua dimensão escatológica (futura), ao ser lido na perspectiva das atitudes humanas em relação a Deus, a PaLrvra de Deus indica que esse dia já acontece no presente. Nessa ótica, a liturgia deste penúltimo domingo do ano litúrgico torna-se convite para que façamos do tempo presente, que Deus nos concede, tempo da graça e do amor, no qual a justiça divina se realiza e nos conduz à eternidade.
Valor e dignidade da mulher
Embora devedor de uma mentalidade e linguagem machistas, o livro de Provérbios, ao exaltar a mulher trabalhadora e fiel, realiza uma inversão, afirmando a primazia da mulher na estrutura doméstica. Ele a coloca em igualdade de dignidade com o homem. Em âmbito familiar, isso é fundamental para superar relações de dominação e submissão. A igualdade entre o casal indica que a família se constitui numa relação de amor e de reciprocidade, na qual cada um, a seu modo, tem papel primordial. Ao mesmo tempo em que reforça a qualidade laborativa da mulher, os provérbios falam de sua atitude de caridade, fundamental para a acolhida e socorro aos pobres. Em outras palavras, a mulher dota o lar de características mais humanas, semelhantes à sensibilidade de Deus em relação aos pequenos e despossuídos.
Essas características espirituais revelam a verdadeira beleza, dom de Deus. A vaidade estética que busca a qualquer custo o “encanto físico” mostra-se vazia de sentido, porque a beleza de aparência é fugaz e inexoravelmente corruptível. Como lidar com as marcas do tempo e da idade avançada? O que nos humaniza, claro tendo-se o cuidado normal com a aparência, são as qualidades do coração que nos conduzem a Deus e ao próximo.
Finalmente, o texto de hoje fala de se proclamar em público o nome da mulher justa. Isso tem dupla consequência. Uma primeira é que a mulher não pode ficar confinada à casa como se fosse propriedade do homem. Como pessoa humana, ela tem direito a uma presença e participação social efetiva. Decorrente dessa primeira, a segunda consequência é que a ação da mulher, no âmbito social, significa uma contribuição única e, por isso, não pode ser negada ou ignorada.
Religião da liberdade
A parábola dos talentos, longe de se refçrir a uma perspectiva meramente econômica, centra-se na dimensão do compromisso pessoal. Deus não “tenta” ou “exige” do ser humano algo que esteja acima de suas forças. A cada um ele dá os dons conforme sua capacidade e necessidade. Essa imagem de Deus quebra a visão de uma divindade tirânica que exige da humanidade além de sua capacidade.
Os dois empregados que receberam maior quota de talentos desenvolvem suas atividades de maneira normal, serena. Em relação ao patrão, parece que não manifestam qualquer atitude de receio ou medo. Na hora em que apresentam os frutos de seus trabalhos e recebem a recompensa, não agem de maneira triunfal, mas o recebem como se já tivessem consciência daquilo que os esperava. Agem na confiança e na gratuidade.
Em relação ao que recebeu um talento, o texto deixa explícita a forma como ele via o patrão. A imagem do patrão não lhe inspirava confiança, mas temor. Faz lembrar aquelas doutrinas e imposições religiosas, que querem convencer pelo terror, apresentando a imagem de um Deus terrível. Paralisado pelo medo, o trabalho não é visto como graça, mas como obrigação. Em decorrência, ele se torna um cumpri dor de dever, menos uma pessoa de fe Essa e a razão pela qual o dom lhe será tirado. Toda pessoa que age por medo ou pressão, quando se vê livre daquilo que lhe oprime, tende a abandonar tudo.
Estruturas religiosas que se baseiam no medo ou na autoridade para se impor aos fiéis não conduzem à fé. A fé pressupõe confiança, liberdade E preciso superar o medo e a imposição para que nossa experiência religiosa seja vivida como expressão de nossa liberdade em Deus Quem não e livre para escolher Deus, por Cristo, jamais experimentara a vivência da fe como experiência de liberdade e de salvação.
Tempo de esperança
O dia do Senhor, lido ra perspectiva do Evangelho, não corresponde ao dia do terror, da condenação. As duas leituras (primçira e o evangelho) indicam que o tempo de Deus deve ser vivido como abertura a Deus e ao proximo E tempo de esperança, porque nos convoca para a liberdade, condição de filhos de Deus, pela qual buscamos e praticamos a justiça do Reino.
 O dia dp Senhor será terror para quem vive urna paz e segurança calcadas no medo e na imposição Quem nunca experimentou a liberdade de filho térá mèdo, porque nunca fÓi cápaz de escolher por si e se fazer sujeito de sua caminhada de fé. Sim, a referência ao dia do Senhor diz respeito à eternidade. Todavia, para se viver essa vocação à eternidade, requer-se que na liberdade cada pessoa seja capaz de escolher o Reino de Cristo e viver consequente a essa escolha. Para quem assim viver, o dia do Senhor jamais será motivo de terror, mas de esperança e de salvação.