segunda-feira, 10 de novembro de 2014

CONVOCADOS PARA A LIBERDADE DE FILHOS DE DEUS


 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO - A

Pr 31,10-13.19,20.30-31; SI 127; ITs 5,1-6; Mt 25,14-30
 Antecedendo à celebração de Cristo Rei, a liturgia de hoje centra--se na pectiva do dia do Senhor. Mesmo mantendo sua dimensão escatológica (futura), ao ser lido na perspectiva das atitudes humanas em relação a Deus, a PaLrvra de Deus indica que esse dia já acontece no presente. Nessa ótica, a liturgia deste penúltimo domingo do ano litúrgico torna-se convite para que façamos do tempo presente, que Deus nos concede, tempo da graça e do amor, no qual a justiça divina se realiza e nos conduz à eternidade.
Valor e dignidade da mulher
Embora devedor de uma mentalidade e linguagem machistas, o livro de Provérbios, ao exaltar a mulher trabalhadora e fiel, realiza uma inversão, afirmando a primazia da mulher na estrutura doméstica. Ele a coloca em igualdade de dignidade com o homem. Em âmbito familiar, isso é fundamental para superar relações de dominação e submissão. A igualdade entre o casal indica que a família se constitui numa relação de amor e de reciprocidade, na qual cada um, a seu modo, tem papel primordial. Ao mesmo tempo em que reforça a qualidade laborativa da mulher, os provérbios falam de sua atitude de caridade, fundamental para a acolhida e socorro aos pobres. Em outras palavras, a mulher dota o lar de características mais humanas, semelhantes à sensibilidade de Deus em relação aos pequenos e despossuídos.
Essas características espirituais revelam a verdadeira beleza, dom de Deus. A vaidade estética que busca a qualquer custo o “encanto físico” mostra-se vazia de sentido, porque a beleza de aparência é fugaz e inexoravelmente corruptível. Como lidar com as marcas do tempo e da idade avançada? O que nos humaniza, claro tendo-se o cuidado normal com a aparência, são as qualidades do coração que nos conduzem a Deus e ao próximo.
Finalmente, o texto de hoje fala de se proclamar em público o nome da mulher justa. Isso tem dupla consequência. Uma primeira é que a mulher não pode ficar confinada à casa como se fosse propriedade do homem. Como pessoa humana, ela tem direito a uma presença e participação social efetiva. Decorrente dessa primeira, a segunda consequência é que a ação da mulher, no âmbito social, significa uma contribuição única e, por isso, não pode ser negada ou ignorada.
Religião da liberdade
A parábola dos talentos, longe de se refçrir a uma perspectiva meramente econômica, centra-se na dimensão do compromisso pessoal. Deus não “tenta” ou “exige” do ser humano algo que esteja acima de suas forças. A cada um ele dá os dons conforme sua capacidade e necessidade. Essa imagem de Deus quebra a visão de uma divindade tirânica que exige da humanidade além de sua capacidade.
Os dois empregados que receberam maior quota de talentos desenvolvem suas atividades de maneira normal, serena. Em relação ao patrão, parece que não manifestam qualquer atitude de receio ou medo. Na hora em que apresentam os frutos de seus trabalhos e recebem a recompensa, não agem de maneira triunfal, mas o recebem como se já tivessem consciência daquilo que os esperava. Agem na confiança e na gratuidade.
Em relação ao que recebeu um talento, o texto deixa explícita a forma como ele via o patrão. A imagem do patrão não lhe inspirava confiança, mas temor. Faz lembrar aquelas doutrinas e imposições religiosas, que querem convencer pelo terror, apresentando a imagem de um Deus terrível. Paralisado pelo medo, o trabalho não é visto como graça, mas como obrigação. Em decorrência, ele se torna um cumpri dor de dever, menos uma pessoa de fe Essa e a razão pela qual o dom lhe será tirado. Toda pessoa que age por medo ou pressão, quando se vê livre daquilo que lhe oprime, tende a abandonar tudo.
Estruturas religiosas que se baseiam no medo ou na autoridade para se impor aos fiéis não conduzem à fé. A fé pressupõe confiança, liberdade E preciso superar o medo e a imposição para que nossa experiência religiosa seja vivida como expressão de nossa liberdade em Deus Quem não e livre para escolher Deus, por Cristo, jamais experimentara a vivência da fe como experiência de liberdade e de salvação.
Tempo de esperança
O dia do Senhor, lido ra perspectiva do Evangelho, não corresponde ao dia do terror, da condenação. As duas leituras (primçira e o evangelho) indicam que o tempo de Deus deve ser vivido como abertura a Deus e ao proximo E tempo de esperança, porque nos convoca para a liberdade, condição de filhos de Deus, pela qual buscamos e praticamos a justiça do Reino.
 O dia dp Senhor será terror para quem vive urna paz e segurança calcadas no medo e na imposição Quem nunca experimentou a liberdade de filho térá mèdo, porque nunca fÓi cápaz de escolher por si e se fazer sujeito de sua caminhada de fé. Sim, a referência ao dia do Senhor diz respeito à eternidade. Todavia, para se viver essa vocação à eternidade, requer-se que na liberdade cada pessoa seja capaz de escolher o Reino de Cristo e viver consequente a essa escolha. Para quem assim viver, o dia do Senhor jamais será motivo de terror, mas de esperança e de salvação.



 

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