terça-feira, 17 de dezembro de 2013

IV DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO - ANO A

IV DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO  - ANO A

O EMANUEL, DEUS CONOSCO 

Através da pregação e da liturgia a Igreja continua a repetir ao homem que a verdadeira e definitiva salvação é um dom que o próprio Deus nos traz vindo a nós. O ponto central da liturgia deste domingo é a revelação desse segredo, desse mistério escondido durante séculos: a manifestação do plano salvífico quer Deus preparou e realizou Poe amor dos homens. Esse desígnio de salvação tem uma história e tem sinais reveladores.
O profeta anuncia um sinal que só pode ser reconhecido e acolhido na pobreza e humildade da fé. Fala do nascimento miraculoso do Emanuel, filho da virgem, sinal concedido por Deus ao pequeno “resto” dos féis que, pela fé nele, apesar dos esforços dos inimigos, serão libertados (1ª leitura). Esse será o novo povo constituído da ordem da fé e não em virtude de privilégios nacionalistas ou de casta.
Filho de Davi, Filho de Deus
A história da salvação tem seu plano de desenvolvimento. Concebido na mente de Deus antes do inicio dos tempos, prenunciado a Adão e Eva após a queda, foi iniciado com a escolha de um homem (Abraão) e de um povo (o povo eleito); quando chegou a plenitude dos tempos foi realizado pela vinda de Cristo, o filho da Davi. Dizer que Cristo é filho de Davi quer dizer reconhecer sua pertença a Israel; lembrar da realidade marcada pela derrota, como foi a história da salvação tem agora o seu “Messias” capaz de ampliar essa história, incluindo as nações (2ª Leitura). Crer, hoje, no filho de Davi, constituído Filho de Deus, significa aceitar que á história não e estranha á construção da Igreja; é ela a linguagem que Deus quis usar para continuar-se com os homens; ele se serve dos acontecimentos do homem, mesmo quando parecem instrumentos indóceis, como Davi e seus sucessores, para realização do seu plano. Significa ainda crer que a missão do cristão tem uma face profundamente humana, não é desencarnada; é tecida de cultura e de história, precisamente porque Deus desceu para se encontrar com o homem em sua carne, nesta terra.
Um Deus que pede
Nesse grande plano, a liturgia de hoje recorda a profecia de Isaías: a realização dessa promessa em seus primeiros passos, que depois da obediência de José, verão o “sim” de Maria e a encarnação do Filho de Deus (evangelho). Trata-se de um plano de bondade no qual a iniciativa é sempre de Deus.
- É o Filho de Deus que vem (não um homem qualquer).
- Vem de uma virgem, sem o concurso de um homem.
- É ele que quer estar conosco: Deus conosco.
O plano de Deus se encontra com a vontade e a colaboração humana: José e Maria. Maria é filha e a flor de toda humanidade, o vértice de toda atitude religiosa; José é o homem “justo”, não daquela justiça legal que quer ficar ao lado da lei repudiando a noiva, nem da justiça que o impede de se aproximar dos méritos de uma ação de Deus na vida e na vocação de seu Filho.
Um anjo intervém para dizer-lhe que Deus tem necessidade dele: é verdade que a concepção é obra do Espírito Santo, mas, José deve contribuir para que o menino entre na descendência de Davi.
Um Deus de homens
 O sinal do Emanuel tem sua perfeita realização em Jesus Cristo,
“sacramentado do encontro entre Deus e o homem”, cuja presença na eucaristia e nas ações litúrgicas é o novo “sinal”, oferecido aos que aceitam ter plena confiança em Deus Pai. A salvação do homem não depende, exclusivamente, de sua iniciativa soberana de Deus: o homem não deve esperá-la passivamente; Deus não salva o homem sem sua cooperação. Deus respeita o homem como respeitou a liberdade de Maria e José, mas seu dom é sempre total.
Em Jesus é a onipotência divina que assume os sofrimentos de um mundo que evolui e de homens pecadores; é a onipotência divina que, em Jesus, cura os enfermos e ultrapassa os limites da nossa morte. O cristão, embora encontrado na criação o mistério da força do amor, com qual Deus se deixou envolver tão intimamente pelas nossas situações, assumir toda a fraqueza que nos aflige, tornando se frágil como uma criança destinada a morrer.




segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

III DOMINGO DO ADVENTO - ANO A

ALEGRAI-VOS! A LIBERTAÇÃO ESTÁ PRÓXIMA


(Is 35,1-6ª.10 – Salmo 145 – Tg 5,7-10 – Mt 11, 2-11)
Alegria da volta á pátria, alegria da saúde readquirida, alegria pela liberdade reconhecida, através da qual se é reintegrado na vida civil e religiosa do povo: eis o fruto da intervenção de Deus que salva. Anunciada pelos profetas (1ª leitura) como noivo êxodo, a volta do exílio é vista como um ato do poder e do amor exclusivo de Deus pelo seu povo, embora depois da realidade, tenha favorecido apenas a um pequeno resto de deportados, e não correspondido totalmente ás sua expectativas, Mas o anúncio permanece sempre válido porque voltado para um tempo em que terá seu pleno acabamento. Cristo vem como aquele que guia, em sua volta para Deus, á humanidade perdida, desanimada extenuada. Mas essa volta se explicara no decorrer das gerações; a libertação exige tempo e fadiga; a alegria é antes, a de quem venceu uma das etapas, o que mantém viva sua esperança de atingir a meta final.
Expectativa paciente e operosa
Por isso, é muito atual a exortação de Tiago (2ª leitura) á paciência e á perseverança. Dirige-se a seus “irmãos”, os pobres, pedindo-lhes a paciência á espera da vinda do Senhor.
O apóstolo Tiago exige deles a paciência. Não os incita á revolta. A paciência não é resignação; é fruto do amor, é vontade de descobrir o outro e ajudá-lo de todos os modos a liberta-se do que aliena – inclusive o dinheiro. Isso exige tempo. A paciência que Tiago pede de seus irmãos, os pobres, consiste em medir os ricos com a medida do tempo para amar, antes que a autodestruição dos ricos e poderosos tenha terminado sua tarefa!
É a paciência de quem sabe que o reino de Deus se constrói lentamente, embora os profetas os prevejam com clareza e o anunciem próximo.
E quando, como aconteceu com João Batista (evangelho), há um momento de desânimo, de obscuridade e dúvida (“és tu o que há de vir ou devemos esperar outro?”), a evocação da Palavra de Deus e dos sinais que acompanharam sua presença eficaz basta para restituir a confiança.
O processo de libertação das escravidões e condicionamento interiores e exteriores do homem, ameaça fazer-nos perder a vida a esperança última de tal modo é urgente o dever de revolucionar as estruturas desumanizantes, de conscientizar os homens e de lhes restituir a dignidade e a autonomia de pessoas.
Por outro lado, com muita freqüência, a indolência e o egoísmo dos cristãos abscurecem e debilitam o anúncio da libertação de Jesus, cujos sinais estão hoje, na dedicação aos pobres, aos marginalizados, ás minorias; na defesa dos direitos da consciência, no partilhar realmente e até o fim a sorte dos que não tem esperança.
Não há evangelização que não leve a uma libertação. O alegre anúncio do Cristo libertador só é digno de fé se seus mensageiros sabem vivenciá-lo e ser testemunhas da alegria.
Deus, fonte de alegria
Deus quer a felicidade dos homens, seu bom êxito.
Os cristãos devem saber que a boa nova da salvação é uma mensagem de alegria e libertação. Os cristãos dispõem de muitos modos para comunicar a alegria que os anima, embora estejam expostos ás contradições e a serem julgados absurdos por alguns; trata-se de uma alegria extraordinariamente realista que exprime a certeza de que, apesar das dificuldades e aparentes contradições, o futuro da humanidade está sendo construído; certeza essa baseada na vitória de Cristo.
A alegria mais profunda
As alegrias mais espontâneas no homem são provenientes das seguranças da vida cotidiana, recebidas como bênçãos de Deus: as alegrias, da vindima e da colheita, as do trabalho bem feito ou do merecido repouso, a de uma refeição fraterna, a de uma família unida, a do amor, de um nascimento; tanto as alegrias ruidosas das festas como as alegrias íntimas do coração. Mas existe uma alegria ainda mais profunda; a daqueles que se fazem pobres diante de Deus e tudo esperam dele e da felicidade á sua lei. Nada pode, então, diminuir essa alegria, Mem mesmo a provação. A alegria de Deus é força. A alegria da Igreja em sua condição terrestre é a alegria do tempo da construção.
A celebração eucarística, em torno das duas mesas, a da Palavra e a do Pão, constitui um dos terrenos privilegiados em que se deve comunicar e experimentar, de certo modo. A verdadeira alegria.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

II DOMINGO DO ADVENTO

SOLENIDADE IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA


Na Inglaterra e na Normandia já se celebrava no século XI uma festa da conceição de Maria; comemorava-se o acontecimento em si, apoiando-se sobretudo em sua condição miraculosa. Além desse aspecto, santo Anselmo realçou a verdadeira grandeza do mistério que se realiza a concepção de Maria: sua preservação do pecado. Em 1439, o concílio de Basiléia considerou este mistério como uma verdade de fé, e Pio IX proclamou-o dogma em 1854.
Deus quis que Maria para salvação da humanidade, porque quis que o Salvador fosse “filho do homem”; por isto, é aplicada a Maria em sentido pleno a sentença divina ao tentador: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua descendência e a sua; ele te esmagará a cabeça”. E é ela reconhecida como a “nova Eva, mãe de todos os vivos” (1ª leitura).

Assim aparece Maria ao lado de Cristo, o novo Adão, e por isso se nos apresenta como figura da mulher ao lado do homem na salvação da humanidade. Lembra e exalta o lugar e o papel da virgem, da esposa, da mãe, da viúva, na sociedade, na Igreja e no mundo; reivindica a dignidade da mulher contra tudo o que atenta contra ela.

A escolha de Deus fez de cada ser humano que nasce, para ser inserido no Cristo, e para ter nele o seu lugar no mundo e na Igreja, é lembrada pela por Paulo na 2ª leitura. Somos todos queridos e amados por Deus, cada um tem seu inconfundível lugar na humanidade, cada um deve aí operar de maneira santa, sem mancha, na caridade. Maria está, certamente, no ápice dessa correspondência como mostra o evangelho.

A cena da anunciação a Maria (evangelho) é a pagina da cooperação de Maria na obra da salvação. O Concílio acentuou fortemente, como faziam os antigos Padres da Igreja, que Maria trouxe á obra de Cristo não uma inerte passividade, mas operosa atividade. O seu “sim” foi mantido e acentuado em toda vida até o Calvário, onde oferece Cristo que se oferecia por nossa salvação. Maria ensina aos homens de hoje que entrar no mistério de Cristo, querer operar a salvação, é pôr-se a “serviço”. Escolhida para mãe, se declara-se “serva”.

Em sua vida progrediu no caminho da fé, da dedicação, da obediência, do amor, da esperança. O mundo está cansado de palavras, de gestos ruidosos, dos que se colocam sempre no primeiro lugar. Maria nos ensina que fazer é mais importante do que falar; ensina-nos a preferir a obra humilde, mas tenaz e cheia de amor, pôr-se a serviço mesmo quando se é chamado a funções importantes. Maria é modelo de fé adulta, esclarecida, conciente, comvicta, responsável, que repercute na vida. É modelo de virtudes maduras, crescidas num exercício contínuo de entrega aos outros, de ininterrupta abertura ao amor. Finalmente. Sua vida de Imaculada atingiu o fulgor de seu amor por Deus e pelos homens.

Um sinal de que o mal foi vencido

Ao lado do verdadeiro Adão foi criada a verdadeira Eva: Maria é parte do mistério de Cristo. Onde havia abundado pó pecado, a graça superabundou. A Imaculada é o “sinal” de que, com a ressurreição de Cristo, o mal já esta vencido “de inicio” se uma criatura pôde ser cheia de graça desde o primeiro instante de sua existência.

A escritura, repetindo o triste refrão: “E fez o que é mal aos olhos do Senhor, imitando os seus pais, quer dar exemplo do implacável contágio do pecado, que o livro do Gênesis exemplifica mais plasticamente, buscando a origem do mal. Maria Santíssima, subtraída do pecado “original” é também a garantia de que, no mundo, o bem é mais forte e mais contagioso que o mal, Com ela, a primeira redimida, tem início uma história de graça “contagiosa’.

Um sinal dos tempos novos


O tema da Imaculada é central no Advento, que se prepara para reviver o “mistério da Redenção” em acontecimento nos quais a graça irrompe superabundantemente. A Encarnação do Verbo, a exultação do Precursor no seio materno, o “Magnificat”, o “Glória” dos anjos, a alegria dos pastores, a luz dos magos, a consolação de Simeão e Ana, a teofania no Jordão antecipam os sinais dos tempos novos. A liturgia torna presente no meio da nossa assembléia a força preservou a Virgem do pecado; de fato, celebra, na eucaristia, o mesmo mistério da redenção, cujos benefícios Maria foi a primeira a gozar e do qual nós participamos, segundo nossa fraqueza e nossas forças.