terça-feira, 17 de junho de 2014

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO ANO A

CRISTO PERMANECE CONOSCO NO SINAL DA SUA PÁSCOA
 1.ª Leit. – Deut 8, 2-3. 14b-16a; Sal – 147, 12-13. 14-15. 19-20; 2.ª Leit. – 1 Cor 10, 16-17; Evangelho – Jo 6, 51-58.

A festa que hoje celebramos é um convite a decifrar a mistério que se esconde por detrás do “Pão e Vinho repartidos”.
Na primeira leitura o Povo de Deus experimentou a presença e a bondade do Senhor na caminhada pelo deserto, durante quarenta anos, quando as dificuldades o atormentavam e recebia do Céu pontualmente a resposta às suas carências. A vida de fé ensina-nos que também nós, muitas vezes na vida, experimentamos a bondade de Deus para conosco.
O salmo 147 que a Liturgia nos convida a cantar como resposta à interpelação que o Senhor nos com a primeira leitura, combina o louvor com o reconhecimento da ação divina sobre a criação e o Seu Povo.
Na segunda leitura, S. Paulo dá resposta à questão posta sobre se podiam comer ou não as carnes de animais que antes tinham sido imoladas nos templos idolátricos e depois comidas em banquetes sacrificiais promovidos pelos devotos, ou vendidas no mercado e diz-nos que a Sagrada Eucaristia não é mero sinal significativo de unidade – todos comem do mesmo pão –, mas é sobretudo um sinal que produz a unidade; precisamente porque contém Jesus Cristo, cimenta a unidade inaugurada no Batismo.
No Evangelho Jesus apresenta-Se-nos no discurso à multidão para quem multiplicara miraculosamente os pães e os peixes, como o verdadeiro alimento do Céu que o pai nos dá.
REFLEXÃO HOMILÉTICA
“Hoje a Igreja nos convida: ao pão vivo que dá vida vem com ela celebrar!” É, precisamente, este o sentido da solenidade de hoje: celebrar, proclamar, professar, expressar a nossa fé inabalável na presença real do Cristo morto e ressuscitado nas espécies eucarísticas do Pão e do Vinho!
Esta é a nossa fé: acreditamos com todo o nosso coração e com toda a nossa mente que, nas espécies eucarísticas oferecidas como Sacrifício de Cristo – sacrifício único, perfeito, eterno – o Senhor Jesus está realmente presente no seu Corpo e no seu Sangue, alma e divindade, tão perfeito e real como está no céu. Diante do pão e do vinho consagrados, podemos cantar, como o povo cristão canta: “Deus está aqui! Ó vinde, adoradores, adoremos a Cristo redentor!”. Nas espécies consagradas já não há mais pão, já não há mais vinho: há somente o Corpo e o Sangue do Senhor morto e ressuscitado, todo no que era vinho, todo no que era pão. É Ele: adorável, amável, Vida para nossa vida! Trata-se de um Mistério de fé que só pode ser compreendido de joelhos! Trata-se de uma realidade concreta que só pode ser apreendida se abrirmos o coração ao desígnio amoroso e salvífico de Deus! Não há como perceber, não há como provar, não há como demonstrar cientificamente! Não podemos apreendê-lo, capturá-lo com a nossa razão e os nossos sentidos: o paladar falha, pois saboreia pão e vinho; o tacto falha, pois toca pão e vinho; a visão falha, pois vê apenas pão e vinho; o olfato falha, pois cheira só pão e vinho... Só pelo ouvido, que crê o que escuta, podemos perceber o Mistério; só a audição não falha:
“Isto é o Meu corpo; isto é o Meu sangue! Eu sou o pão vivo descido do céu. O pão que Eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo!”.
Que mistério tão grande: o pão que Cristo dá é a carne dada, a carne sacrificada, entregue na cruz, para a vida do mundo! Que mistério! Que amor!
Os judeus entenderam, os judeus contestaram, os judeus escandalizaram-se, os judeus abandonaram-n’O! Infelizmente, há cristãos que não entendem, que contestam, que se escandalizam e não comem nem bebem a Vida que dura eternamente!
Mas, Jesus insiste: “Em verdade, em verdade os digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós! Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei!”
– São palavras impressionantes, quase que inacreditáveis: o corpo e sangue de Jesus devem ser comidos como fonte de vida! Não de qualquer vida, mas da vida eterna, vida de Deus! Esta vida é o próprio Espírito Santo, que ressuscitou Jesus e que impregna o Seu Corpo e Sangue nas espécies eucarísticas! Por isso, na comunhão, recebemos, comemos a Vida já agora e plantamos esta Vida para a ressurreição final!
“Porque a Minha carne é verdadeira comida e o Meu sangue, verdadeira bebida. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em mim e Eu nele!”
– O que mais Jesus poderia dizer para deixar mais claro e patente que a Sua presença na Eucaristia é realmente real?
É “verdadeiramente comida, é verdadeiramente bebida!” “Como o Pai que Me enviou vive – é o Deus vivente e pleno de vida –, e Eu vivo pelo Pai, o que come de mim viverá por mim!”
– Que dom, que graça: viver por Jesus, viver com a mesmíssima vida que Jesus ressuscitado recebeu do Pai: viver daquela vida escondida no pão e no vinho! Eis o dom que o Senhor faz de si mesmo! E Jesus conclui, no Evangelho de hoje:
“Este é o pão que desceu do céu, não é um simples pão deste mundo! Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram! O maná não dava a vida divina, o maná não era transfigurado pelo Espírito Santo, Senhor que dá a vida! Aquele que come este pão viverá para sempre!”
Na travessia do deserto da vida, o Senhor conduz-nos entre humilhações e provas, que nos revelam quem somos, o que temos no coração... O Senhor não nos infantiliza, não nos livra dos embates da existência, mas permanece conosco:
“Não te esqueças do Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa de escravidão, e te conduziu através do imenso e temível deserto, entre serpentes venenosas e escorpiões,terreno árido e sem águas. Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer água para ti e, no deserto, te deu a comer o maná, que teus pais não tinham conhecido” para te mostrar que “nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus!”
Nos nossos desertos, neste deserto da longa história humana, que a Igreja vai atravessando, nutramo-nos desse pão e bebamos da bebida que sai do Cristo, nossa Rocha! Este alimento verdadeiro, de vida verdadeira, temo-lo no altar.



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