segunda-feira, 10 de março de 2014

O RISCO DA FÉ

2° DOMINGO DA QUARESMA - ANO A - 2014

Gênesis 12,1-4 – 2 Timóteo 1,8b-10 – Mateus 17,1-9

A figura de Abraão questiona as comunidades isoladas e comodistas, que preferem apostar na segurança de suas conquistas, em vez de arriscar na novidade de Deus, ou deixar que a Palavra de Deus as coloque a caminho do encontro de outras comunidades necessitadas de ajuda evangelizadora.

A carta a Timóteo  diz que não é fácil ser testemunha de Deus e do seu projeto. O mundo de hoje tende a ignorar os apelos de Deus ou até manifesta desprezo pelos valores do Evangelho e por aqueles que o pregam. No entanto, as dificuldades não podem ser uma desculpa para nos demitirmos das nossas responsabilidades e de levarmos a sério a vocação a que Deus nos chama para a missão.

Já o Evangelho situa novamente Jesus sobre um monte (montanha). As bem-aventuranças são pronunciadas sobre um monte. Pães são multiplicados sobre um monte. Na Bíblia, montanha ou monte sempre é o lugar do encontro com o Sagrado. Para que nós também sejamos transfigurados – nos tornemos novas criaturas – precisamos ir ao encontro de Deus, que acontece na participação litúrgica, na leitura diária da Bíblia e na prática do amor e da caridade. A partir destes encontros escutamos Jesus – ordem do Pai – e somente assim poderemos obedecê-Lo.. A mudança do rosto e as vestes de brancura resplandecente recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29), depois de se encontrar com Deus e de ter as tábuas da Lei – mandamentos que devemos obedecer. A nuvem, por sua vez, indica a presença de Deus: era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo através do deserto (cf. Ex 40,35; Nm 9,18.22; 10,34).

Os três discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem não ter muita vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, alienados da realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar. No entanto, ser seguidor de Jesus obriga a “regressar ao mundo” para testemunhar aos homens – mesmo contra a corrente – que a realização autêntica está no dom da vida; obriga ater os pés sujos de lama – como diz o Papa Francisco -, nos problemas e dramas do mundo atual, a fim de dar o nosso contributo para o aparecimento de um mundo mais justo e mais feliz. A religião não é  uma prática que anestesia a pessoa das dores do dia a dia,  mas um compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor para uma prática geradora da justiça e da paz, principalmente para os que sofrem.

Sai da tua Terra, é o convite de Deus a Abraão. Não tenhas medo de evangelizar, é o convite de Paulo a Timóteo. Subam comigo e desçam comigo, é o convite de Jesus a todos nós, para que saiamos do pequeno mundo dos nossos interesses pessoais e nos coloquemos a caminho do encontro com Deus e do encontro com o próximo.

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