terça-feira, 20 de maio de 2014

6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO A


Primeira Leitura: At 8,5-8.14-17 
Impuseram-lhes as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.

A morte de Estêvão foi o estopim para que em Jerusalém explodisse a perseguição contra os cristãos de cultura grega, à frente dos quais estava o próprio Estêvão. Por causa dela, os fiéis se dispersaram. Lucas vê nesse fato a chance providencial que a comunidade tem de levar o anúncio da palavra de Deus aos que ainda não a conhecem. Se em Jerusalém o anúncio provocou perseguição, na Samaria suscitará contentamento. Temos aqui uma das grandes forças da palavra de Deus: a capacidade de confraternizar povos inimigos (compare com Lc 9,51ss). De fato, judeus e samaritanos detestavam-se mutuamente. Agora, a Samaria acolhe o anúncio da Palavra, feito por intermédio de Filipe, um dos sete ministros (8,5; cf. 6,5).
Filipe é apresentado como modelo de evangelizador que sai de Jerusalém para levar o testemunho a todos (cf. 1,8). Fica, assim, caracterizado o tipo da comunidade evangelizadora: a que não põe fronteiras ao trabalho pastoral. A missão do evangelizador é prolongamento do que Jesus disse e fez. Consta de anúncio e de fatos. Filipe anuncia o Cristo (v. 5) e realiza milagres (v. 6). As duas atividades estão unidas entre si. Anunciar o Cristo é já mostrá-lo presente na ação concreta. Por isso, a pregação de Filipe é acompanhada pela expulsão dos espíritos maus e pela cura de paralíticos e aleijados (como fez o próprio Jesus). Em outras palavras, anunciar o Cristo é eliminar tudo o que aliena e despersonaliza o ser humano (demônios), dando às pessoas condições para que assumam responsavelmente a própria caminhada (cura dos paralíticos e aleijados). O clima que esses acontecimentos suscita é o da alegria messiânica (cf. 2,46; Lc 2,10), que contagia a quantos aceitam Jesus como o Libertador e Senhor de suas vidas (v. 8).
A Igreja de Jerusalém toma conhecimento do que a palavra de Deus realizou na Samaria. E envia para lá Pedro e João (v. 14). Sua tarefa é completar a evangelização mediante a oração e a imposição das mãos. Os samaritanos recebem o Espírito Santo. No plano de Lucas, realiza-se o Pentecostes dos pagãos (os samaritanos eram considerados pagãos pelos judeus). O Espírito vai conduzindo a evangelização, fazendo que muitos povos se integrem ao único povo messiânico. O Espírito não é propriedade dos apóstolos. Estes, sim, são servos do Espírito, pois ele os conduz e impulsiona. Assim, de acordo com At 1,8, os discípulos de Jesus se tornam testemunhas na Judéia (Jerusalém), na Samaria e até nos confins do mundo (o resto do livro dos Atos), pois o Espírito da Verdade (cf. evangelho) é o dinamismo da comunidade cristã missionária.                                              
Segunda Leitura: 1Pd 3,15-18 
Sofreu a morte na sua existência humana, mas recebeu nova vida pelo Espírito.
Os vv. 13-14, apesar de não constarem no texto lido hoje, ajudam na compreensão do contexto. 'Quem lhes fará mal, se vocês se esforçam em fazer o bem? Se sofrem por causa da justiça, felizes de vocês! Não tenham medo deles, nem fiquem assustados'. Pedro escreve a cristãos que sofrem (cf. II leitura do domingo passado). Os sofrimentos daquelas comunidades da Ásia Menor tinham duas causas: em primeiro lugar, a situação social em que viviam – eram migrantes, trabalhadores, escravos; em segundo lugar, a luta que sustentavam – queriam que fosse feita justiça, que seus direitos e dignidade fossem reconhecidos. Por causa disso eram vistos como subversivos.
Pedro lhes diz que, se sofrem por causa da justiça, são felizes (v. 14). É a concretização da bem-aventurança anunciada por Jesus (cf. Mt 5,10). Não são bem-aventurados pelo sofrimento em si. O sofrimento não faz ninguém feliz! São bem-aventurados por causa da motivação profunda que anima sua luta: a justiça que visa criar o reino de Deus, o projeto de Deus.
Pedro anima as comunidades, dizendo-lhes que não devem ter medo dos que as consideram subversivas e arrastam seus membros aos tribunais. Pelo contrário, devem 'santificar em seus corações o Senhor Jesus Cristo', ou seja, reconhecer de coração (plena e absolutamente) que o único Senhor é Jesus! Essa motivação deve estar sempre presente e animar todas as esperanças e anseios das pessoas (v. 15).
Bons modos, respeito e consciência limpa são os instrumentos para a conquista da justiça (v. 16a), resposta que desarma a grosseria, a violência e a corrupção dos que fomentam a injustiça. Temos aqui o ideal da não-violência ativa (cf. Mt 5,38-40), capaz de fazer ruir a sociedade injusta (v. 16b).
A norma de comportamento cristão é a prática de Jesus (v. 18). O justo morreu pelos injustos, a fim de os conduzir a Deus. Contudo, a morte de Jesus não quer dizer que a injustiça tenha vencido. Pelo contrário, da morte nasceu a vida nova do Espírito Santo. Esse mesmo Espírito é que age agora nos fiéis, levando-os à prática de Jesus. Fazendo o que ele fez, os cristãos oferecem sua colaboração indispensável na construção do reino de Deus. Esse reino é o ideal proposto por Deus, que coincide com os profundos anseios da humanidade sedenta de justiça, liberdade e dignidade reconhecida.
O v. 17 não pretende atribuir a Deus a vontade de fazer sofrer as pessoas. De fato, ele não sente prazer no sofrimento humano. O próprio Jesus o demonstrou. O sofrimento diminui o ser de Deus presente nas pessoas. Contudo, o projeto de Deus sabe valorizar o sofrimento. Do sofrimento nasce o desejo de liberdade e vida. E Deus o transforma em energia que supera as injustiças que o provocam.

Evangelho: Jo 14,15-21 
Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Defensor.
Num contexto de ódio e de perseguição, a promessa feita por Jesus de dar aos discípulos o Espírito da Verdade reveste-se de suma importância. Foi a forma de protegê-los contra o erro e a mentira, ciladas montadas pelo mundo para desviá-los do bom caminho. Sem esta ajuda salutar, com muita probabilidade, deixar-se-iam levar pelas sugestões do falso espírito, chegando a renegar sua condição de discípulos. Pois, enquanto o Espírito da Verdade conduz ao Deus verdadeiro, o espírito da mentira conduz aos falsos deuses, aos ídolos.
O Espírito é designado como Paráclito, ajudante dos discípulos de Jesus. Assim, não seriam deixados à própria sorte, numa espécie de perigosa orfandade. A presença do Espírito de Verdade junto deles daria continuidade à de Jesus. Eles teriam sempre a quem recorrer, pois o Espírito estaria neles e "com eles para sempre".

A comunidade cristã sempre correria o sério risco de ser levada pelo espírito da mentira. Por isso, precisava da presença constante do Espírito da Verdade para manter-se sempre no bom caminho. Quanto maior esse risco, tanto mais necessária fazia-se a presença desse Espírito que conduz à verdade e à vida. Ele haveria de ser uma luz a expulsar as trevas, de modo a permitir aos discípulos caminhar com segurança rumo à casa do Pai.



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