segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A CURA É UM SINAL

5º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

Jó 7,1-4.6-7; Sal 146 (147); 1 Cor 9,16-19.22-23; EVANGELHO – Mc 1, 29-39

1ª Leitura – Jó 7,1-4.6-7

ATUALIZAÇÃO

• O sofrimento – sobretudo o sofrimento do inocente – é, talvez, o drama mais inexplicável que atinge o homem ao longo da sua caminhada pela história. Que razões há para o sofrimento de uma criança ou de uma pessoa boa e justa? Porque é que algumas vidas estão marcadas por um sofrimento atroz e sem esperança? Como é que um Deus bom, cheio de amor, preocupado com a felicidade dos seus filhos, Se situa face ao drama do sofrimento humano? A única resposta honesta é dizer que não temos uma resposta clara e definitiva para esta questão. O “sábio” autor do livro de Jó lembra-nos, contudo, a nossa pequenez, os nossos limites, a nossa finitude, a nossa incapacidade para entender os mistérios de Deus e para compreender os caminhos por onde se desenrolam os projetos de Deus. De uma coisa podemos estar certos: Deus ama-nos com amor de pai e de mãe e quer conduzir-nos ao encontro da vida verdadeira e definitiva, da felicidade sem fim… Talvez nem sempre sejamos capazes de entender os caminhos de Deus e a sua lógica… Mas, mesmo quando as coisas não fazem sentido do ponto de vista da nossa humana lógica, resta-nos confiar no amor e na bondade do nosso Deus e entregarmo-nos confiadamente em suas mãos.

• Ao longo do livro de Jó, multiplicam-se os desabafos magoados de um homem a quem o sofrimento tornou duro, exigente, amargo, agressivo, inconformado, revoltado até. No entanto, Deus nunca condena o seu amigo Jó pela violência das suas palavras e das suas exigências… Deus sabe que as vicissitudes da vida podem levar o homem ao desespero; por isso, entende o seu drama e não levam demasiado a sério as suas expressões menos próprias e menos respeitosas. A atitude compreensiva e tolerante de Deus convida-nos a uma atitude semelhante face aos lamentos de revolta e de incompreensão vindos do coração daqueles irmãos que a vida maltratou… Que ressonância tem no nosso coração o lamento sentido dos nossos irmãos, mesmo quando esse lamento assume expressões mais contundentes e mais chocantes?
• Jó é, também, o crente honesto e livre, que não aceita certas imagens pré-fabricadas de Deus, apresentadas pelos profissionais do sagrado. Recusa-se a acreditar num Deus construído à imagem dos esquemas mentais do homem, que funciona de acordo com a lógica humana da recompensa e do castigo, que Se limita a fazer a contabilidade do bem e do mal do homem e a responder com a mesma lógica. Com coragem, correndo o risco de não ser compreendido, Jó recusa esse Deus e parte à procura do verdadeiro rosto de Deus – esse rosto que não se descobre nos livros ou nas discussões teológicas abstratas, mas apenas no encontro “face a face”, na aventura da procura arriscada, na novidade infinita do mistério. É esse mesmo percurso que ó o protótipo do verdadeiro crente, nos convida a percorrer.

Salmo 146 (147)
Refrão: Louvai o Senhor, que salva os corações atribulados.

2ª Leitura 1 Cor 9,16-19.22-23

ATUALIZAÇÃO

• Em geral, a nossa sociedade é muito sensível aos direitos individuais e valoriza muito a liberdade. Trata-se, sem dúvida, de uma das dimensões mais significativas e mais positivas da cultura do nosso tempo… Contudo, os próprios direitos ou a própria liberdade não são valores absolutos… Aliás, a afirmação intransigente dos próprios direitos e da própria liberdade pode resultar, por vezes, em prejuízo para os outros irmãos… Para o cristão, o valor realmente absoluto e ao qual tudo o resto se deve subordinar é o amor. O cristão sabe que, em certas circunstâncias, pode ser convidado a renunciar aos próprios direitos e à própria liberdade, porque a caridade ou o bem dos irmãos assim o exigem. O amor é, para o cristão, o “bem maior”, em vista do qual ele pode renunciar a “bens menores”. O discípulo de Jesus não pode impor os seus direitos a qualquer preço, sobretudo quando esse preço implica desprezar os irmãos.

• A expressão “ai de mim se não anunciar o Evangelho” traduz a atitude de quem descobriu Jesus Cristo e a sua proposta e sente a responsabilidade por passar essa proposta libertadora aos outros homens. Implica o dom de si, o esquecimento dos seus interesses e esquemas pessoais, para fazer da sua vida um dom a Cristo, ao Reino e aos outros irmãos. Que eco é que esta exigência encontra no nosso coração? O amor a Cristo e aos nossos irmãos sobrepõe-se aos nossos esquemas e programas pessoais e obriga-nos a sentirmo-nos comprometidos com o Evangelho e com o testemunho do Reino proposto por Jesus?
• O serviço do Evangelho e dos irmãos não pode ser, nunca, uma instalação numa vida fácil, descomprometida, cômoda, pouco exigente. Aquele que dedica a sua vida ao serviço do Reino não é um funcionário público, com um horário pouco exigente e um salário agradável, que cumpre as suas horas de serviço, que resolve os problemas “burocráticos” que a “profissão” exige e que se retira comodamente para o seu mundo isolado, em paz com a sua consciência… Mas é alguém que põe o amor aos irmãos e à comunidade acima de tudo, que está sempre disponível para servir, que é capaz de renunciar até aos seus tempos de descanso para acompanhar os irmãos, para os escutar, para os acolher. Para o discípulo de Jesus, o amor deve, sempre, estar acima dos próprios interesses e tornar-se dom, serviço, entrega total.

ALELUIA – Mt 8,17
Aleluia. Aleluia.
Cristo suportou as nossas enfermidades e tomou sobre Si as nossas dores.


EVANGELHO – Mc 1, 29-39

ATUALIZAÇÃO

• As ações de Jesus em favor dos homens que o Evangelho deste domingo nos apresenta mostram a eterna preocupação de Deus com a vida e a felicidade dos seus filhos. O projeto de Deus para os homens e para o mundo não é um projeto de morte, mas de vida; o objetivo de Deus é conduzir os homens ao encontro desse mundo novo (o “Reino de Deus”) de onde estão ausentes o sofrimento, a maldição e a exclusão, e onde cada pessoa tem acesso à vida verdadeira, à felicidade definitiva, à salvação. Talvez nem sempre entendamos o sentido do sofrimento que nos espera em cada esquina da vida; talvez nem sempre sejam claros, para nós, os caminhos por onde se desenrolam os projetos de Deus… Mas Jesus veio garantir-nos absolutamente o empenho de Deus na felicidade e na libertação do homem. Resta-nos confiar em Deus e entregarmo-nos ao seu amor.

• O encontro com Jesus e com o “Reino” é sempre uma experiência libertadora. Aceitar o convite de Jesus para O seguir e para se tornar “discípulo” significa a ruptura com as cadeias de egoísmo, de orgulho, de comodismo, de auto-suficiência, de injustiça, de pecado que impedem a nossa felicidade e que geram sofrimento, opressão e morte nas nossas vidas e nas vidas dos nossos irmãos. Quem se encontra com Jesus, escuta e acolhe a sua mensagem e adere ao “Reino”, assume o compromisso de conduzir a sua vida pelos valores do Evangelho e passa a viver no amor, no perdão, na tolerância, no serviço aos irmãos. É – na perspectiva da catequese que o Evangelho de hoje nos apresenta – um “levantar-se”, um ressuscitar para a vida nova e eterna. O meu encontro com Jesus constituiu, verdadeiramente, uma experiência de libertação e levou-me a optar pelos valores do Evangelho?
• A história da sogra de Pedro que, depois do encontro com Jesus, “começou a servir” os que estavam na casa, lembra-nos que do encontro libertador com Jesus deve resultar o compromisso com a libertação dos nossos irmãos. Quem encontra Jesus e aceita inserir-se na dinâmica do “Reino”, compromete-se com a transformação do mundo… Compromete-se a realizar, em favor dos irmãos, os mesmos “milagres” de Jesus e a levar vida, paz e esperança aos doentes, aos marginalizados, aos oprimidos, aos injustiçados, aos perseguidos, aos que sofrem. Os meus gestos são sinais da vida de Deus (“milagres”) para os irmãos que caminham ao meu lado?

• Na multidão que se concentra à porta da “casa de Pedro” podemos ver essa humanidade que anseia pela sua libertação e que grita, dia a dia, a sua frustração pela guerra, pela violência, pela injustiça, pela miséria, pela exclusão, pela marginalização, pela falta de amor… A Igreja de Jesus Cristo (a “casa de Pedro”) tem uma proposta libertadora que vem do próprio Jesus e que deve ser oferecida a todos estes irmãos que vivem prisioneiros do sofrimento… O que é que nós, discípulos de Jesus, temos feito no sentido de oferecer a proposta libertadora de Jesus aos nossos irmãos oprimidos? Ao olhar para a Igreja de Jesus, eles encontram solidariedade, ajuda, fraternidade, preocupação real com os seus dramas e misérias, ou apenas discursos teológicos abstractos e virados para o céu? Os nossos irmãos idosos, doentes, marginalizados, esquecidos encontram nos nossos gestos o amor libertador de Jesus que dá esperança e que aponta no sentido de um mundo novo, ou encontram egoísmo, indiferença, marginalização?

• O exemplo de Jesus mostra que o aparecimento do “Reino de Deus” está ligado a uma vida de comunhão e de diálogo com Deus. Rezar não é fugir do mundo ou alienar-se dos problemas do mundo e dos dramas dos homens… Mas é uma tomada de consciência dos projetos de Deus para o mundo e um ponto de partida para o compromisso com o “Reino”. Só na comunhão e no diálogo íntimo com Deus percebemos os seus projetos e recebemos a força de Deus para nos empenharmos na transformação do mundo. É preciso, portanto, que o discípulo encontre espaço, na sua vida, para a oração, para o diálogo com Deus.




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