quinta-feira, 23 de outubro de 2014

30° DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

O NOVO MANDAMENTO DO AMOR  

Ex 22,20-26; SÍ 17; 1Ts 1,5c-10; Mt 22,34.40

 A experiência da precariedade da vida deve levar as pessoas à liberdade do agir. Quem passa pelo sofrimento e pela experiência da dor, deseja libertar-se. Todavia, a libertação só será autêntica se, progredindo na liberdade, a pessoa superar o complexo de vítima e o desejo de revanche, assumindo a postura de solidariedade ante os sofredores e de misericórdia ante o arrependimento de quem erra. A prática da justiça, para quem crê, transita nessas duas bitolas: solidariedade e misericórdia.
Porque misericordioso...
O livro do Êxodo usa o Egito não como entidade espaço-geográfica, mas como categoria teológica. Entendido sob esse prisma, o Egito pode existir mesmo em Israel. Esse elemento aparece com força no texto da liturgia de hoje. Estrangeiro — viúva — órfão são três classes de pessoas cuja situação socioeconômica e política as iguala à situação de Israel no Egito. A opressão a essas pessoas desloca o Egito para Israel. Em consequência, se Deus agiu contra o Egito para libertar Israel, da mesma forma agirá contra Israel para libertar essas pessoas. Essa advertência do texto bÍblico não é uma ameaça a Israel. É um chamado à consciência. Por ter passado pelo sofrimento, Israel é convidado a superar quaisquer formas de opressão e a viver a solidariedade para com aqueles que em seu meio vivem em condições de precariedade.
O texto também faz referência às relações econômicas de empréstimo e penhora de bens. Emerge como objeto de exploração, nessas relações, o pobre que, tanto no caso de empréstimo, como no de penhora de bens, entra por necessidade. A exploração dos pobres por juros ou pela expropriação de seus bens é vista como injustiça. Certamente a referência a esse tipo de relações evidencia uma realidade que ocorria em Israel. Voltando seu olhar para o pobre, Deus lê os fatos a partir de sua condição. Eles não devem ser punidos por sua condição, mas gozarem da misericórdia de quem os socorre. De forma pedagógica, o autor sagrado quer fazer emergir a imagem e a missão de Israel como povo de Deus. É sempre importante ter presente que, para ser povo eleito ou povo de Deus, Israel também tem de escolher Deus e sua justiça, manifestando isso pela misericórdia e pela prática da caridade para com os pobres.
Amarás...
Jesus continua sendo desafiado por seus algozes religiosos. “Perfeitos” no cumprimento da lei, vista como salvadora, os fariseus testam Jesus indagando sobre o maior mandamento. A resposta. de Jesus toca na raiz de todas as práticas da fé. Ele não se baseia na lei, porque ela, como mediação, não tem força de salvação. O que coloca o crente no caminho da salvação é o espírito com que se abre a Deus e coloca em prática os mandamentos.
Resumir os mandamentos no amor a Deus e ao próximo reflete o caráter simples de Deus. Déus  salva por amor, por isso vem ao encontro do ser humano. Nesse sentido, o amor de Deus não é abstrato, mas manifesta-se na comunicação da vida a cada ser vivo e na aproximação dele em relação à humanidade. Dessa forma, podemos afirmar a existência do único e fundamental mandamento do amor. Se Deus nos ama doando-nos a vida e nos salvando, então, amar a Deus significa amar igualmente ao próximo. Não se ama ao próximo porque se ama a Deus. Se o amor ao próximo é a expressão concreta do amor a Deus, não amá-lo significa que-nunca se amou a Deus.
As práticas religiosas têm por finalidade levar à consciência de Deus e de nossa necessidade de amá-lo. Dessa forma, práticas e mentalidades religiosas rápidas em julgar e condenar pessoas, utilizando-se inclusive de violência e de difamação, não passam de um engodo, apresentando uma falsa imagem de Deus. O problema do farisaísmo não é a questão do desejo de Deus, mas o da absolutização de uma imagem de Deus, excluindo todas as outras experiências de fé, sem abertura para a misericórdia e o diálogo. O amor é mandamento único, porque jamais exclui alguém, acolhendo a todos os que se abrem para acolher Deus e o próximo.
Acolher o amor...
A fé manifesta-se como acolhida ao amor de Deus para conosco. Recusar o amor significa voltar para o Egito e permitir que as injustiças e as forças de morte atuem na historia. O verdadeiro amor não e uma ideia abstrata ou sentimento de posse. É atitude de quem vive os valores do Reino como norma de vida. O testemunho de fé transcende fronteiras, porque, enquanto acolhida da Palavra na alegria do Espírito de Jesus, leva a conversão, que e a liberdade em Deus.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário