Festa da Exaltação da Santa Cruz
A Igreja universal
celebra neste domingo a festa da Exaltação da Santa Cruz. É uma festa que se
liga à dedicação de duas importantes basílicas construídas em Jerusalém por
ordem de Constantino, filho de Santa Helena. Uma foi construída sobre o Monte
do Gólgota; por isso, se chama Basílica do Martyrium ou Ad Crucem. A outra foi
construída no lugar em que Cristo Jesus foi sepultado pelos discípulos e foi
ressuscitado pelo poder de Deus; por isto é chamada Basílica Anástasis, ou
seja, Basílica da Ressurreição.
A dedicação destas duas
basílicas remonta ao ano 335, quando a Santa Cruz foi exaltada ou apresentada
aos fiéis. Encontrada por Santa Helena, foi roubada pelos persas e resgatada
pelo imperador Heráclio. Segundo contam, o imperador levou a Santa Cruz às
costas desde Tiberíades até Jerusalém, onde a entregou ao Patriarca Zacarias,
no dia 3 de Maio de 630. A partir daí a Festa da Exaltação da Santa Cruz passou
a ser celebrada no Ocidente. Tal festividade lembra aos cristãos o triunfo de
Jesus, vencedor da morte e ressuscitado pelo poder de Deus.
A leitura do Livro dos Números (21,4b-9), nos fala de uma cruz
erguida por ordem de Deus, em determinado momento da história da salvação e que
tornou-se sinal e garantia de vida para o povo de Deus a caminho. Não é difícil
compreender que aquela cruz, sinal de vida e instrumento de salvação para o
povo a caminho, foi somente imagem ou figura da cruz de Cristo, sinal e
instrumento de vida e da salvação definitiva do novo povo de Deus a caminho. De
fato, no altar da cruz, Cristo ofereceu o sacrifício único e definitivo pela
salvação de todos os filhos de Deus. Além disso, a presente leitura descreve
com simplicidade as principais características do relacionamento mútuo entre
Deus e os homens. O diálogo salvífico entre Deus e os homens, é aqui
apresentado com duas características básicas:
Da parte de Deus: amor,
perdão, compaixão, misericórdia. Mesmo depois de tamanha ingratidão demonstrada
pelo seu povo, Deus acolhe a intercessão do seu servo Moisés e perdoa todos os
seus filhos.
Da parte do homem: a
ingratidão e a insatisfação.De fato, logo depois que Deus os perdoou e
interveio em favor da salvação deles, o povo revoltou-se contra Deus e por
motivos tão banais, se comparados com o que Deus havia operado gratuitamente em
favor de todos. O povo impacientou-se contra Deus e contra Moisés e se pôs a
falar: Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto?
Não há pão, falta água e
já estamos fartos e com nojo deste alimento miserável. Com extrema rapidez o
povo esqueceu os grandes feitos de Deus em favor de sua libertação e, diante
das primeiras pequenas dificuldades do caminho para a vida, rebela-se contra
Deus, dando uma grande demonstração de sua ingratidão para com o Deus Salvador.
A primeira vista,
podemos até nos sentir encorajados a criticar a atitude ingrata do antigo povo,
mas certamente encontraremos coisas muito semelhantes em nosso relacionamento
pessoal e comunitário com Deus. Ele é nosso tudo. Dele recebemos todas as
coisas. Desde a nossa concepção, Deus vem realizando grandes milagres em nosso
favor. É muito comum esquecermos de manifestar nossa gratidão por tudo o que
recebemos gratuitamente, mas com freqüência, diante das primeiras dificuldades
do nosso caminho para a plenitude da vida em Deus, esquecemos toda a bondade de
Deus para conosco e nos rebelamos, somos ingratos.
São Paulo ao enviar a carta aos filipenses
(2,6-11), quer
mostrar-nos como foi o momento da cruz, lugar e situação em que Deus, na pessoa
do Filho amado, nos deu sua maior prova de amor. Ainda que nós homens não
fôssemos merecedores de nada da parte de Deus, dada nossa condição de escravos do
pecado, Jesus esvaziou-se inteiramente de sua condição e humilhou-se, assumindo
nossa condição humana e carregou sobre si o peso de nossos pecados, redimindo
com sua cruz a humanidade decaída e restaurando em todos nós a dignidade de
filhos perdida com o pecado. Naquele gesto da cruz, Jesus além de nos dar a
maior prova de amor, dá o exemplo do perfeito relacionamento entre nós filhos e
Deus nosso Pai: total obediência e acolhida da sua vontade; perfeito abandono e
total confiança no amor misericordioso do Pai.
No Evangelho de João (3,13-17), encontraremos uma
releitura, à luz de Cristo, daquela cruz erguida por Moisés no deserto e que
foi sinal e instrumento de salvação para o povo de Deus a caminho. São João
coloca na boca de Jesus a afirmação: "do mesmo modo como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado,
para que todos os que nele crerem, tenham a vida eterna". Com estas
palavras, Jesus confirma que a cruz não é um simples acidente de caminho, mas
uma necessidade na vida de qualquer um de seus seguidores de todos os tempos,
pois no plano salvífico do Pai, a plenitude da vida virá somente depois da cruz
e da ressurreição. É preciso abraçar com coragem e dignidade a cruz de cada
dia, para poder ter a esperança e um dia contemplar Deus face-a-face. Para o
novo e definitivo povo de Deus, os batizados, a cruz também é sinal e
instrumento de salvação. Nela, todo filho pode saciar sua sede de perdão,
misericórdia e reconciliação.
Terminamos
nossa reflexão, fixando a atenção na última parte do nosso texto evangélico,
pois ele é rico de esperanças para todos nós que ainda estamos caminhando em
busca da salvação plena e definitiva: "Deus não enviou seu Filho ao mundo
para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele". Deus não quer
que nenhum dos seus filhos se perca e para realizar este seu sonho em nosso
favor, não poupou nem mesmo seu Filho amado, mas o entregou na cruz para nossa
salvação. Se Ele nos deu o Filho, que era seu bem mais precioso, poderá nos
conceder tudo o resto. Portanto, ainda que nos reconheçamos pecadores e
distantes daquilo que o plano de Deus nos pede, podemos continuar caminhando
com esperanças e até certa alegria, pois o amor infinito de Deus é capaz de
muito mais do podemos sonhar.
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